Twitter e threads
Algumas semanas atrás, lá no cantinho legal da internet chamado Twitter, me deparei com uma thread do escritor e editor de quadrinhos norte-americano Joseph P. Illidge (Valiant, DC Comics, Milestone, Lion Forge). Subindo a hashtag #VisibleBlackWomenInComics, ele indicava algumas mulheres negras norte-americanas, tais como: Vita Ayala, Alitha E. Martinez e tantas outras. E descendo a thread eu percebi que não conhecia nenhuma daquelas vozes.
Isso mexeu comigo. Os trabalhos eram incríveis e fui a procura de mais informações sobre essas mulheres negras por aqui. Acabei encontrando somente essa daqui do pessoal do Lado Negro da Força sobre o trabalho da Alitha E. Martinez em Black Panther: World of Wakanda (inédita no Brasil).
Tomei coragem e pedi autorização ao Joseph Illidge para traduzir a thread com o intuito de espalhar as vozes dessas mulheres por aqui. E também para perguntar: quantas mulheres negras atuam nos quadrinhos brasileiros atualmente? Onde elas estão? Quantas publicações de mulheres estão em nossas pilhas de quadrinhos a serem lidos?
Antes que me perguntem, posso dizer que a minha intenção é justamente a de fomentar uma pequena discussão por aqui e com isso aumentar a presença de trabalhos de mulheres nessa minha pilha interminável aqui de casa. E com isso admito a minha mea-culpa.
Representatividade importa!
Agora, se me permitem, peço licença para me dirigir diretamente aos meus companheiros de gênero. Caras, perguntas como as de cima não são mimimi ou coisa parecida. É perceber que dentro dos quadrinhos existe uma pluralidade de vozes constantemente apagadas e negligenciadas. E diferentemente do que muitos acreditam, elas não estão aqui para “acabar” com a nona arte. Elas estão aqui para colaborar e expandir o horizonte dessa mídia que tanto amamos. E fica a provocação: vocês realmente acreditam que boas histórias só podem nascer na mente de outros homens?
Pronto. Agora podemos abrir passagem para quem realmente importa. O trabalho incrível dessas mulheres negras e que por enquanto não tiveram tanta visibilidade por aqui.
E como na thread de Joseph são 11 mulheres, optei por apresentá-las individualmente, pois assim elas ocupam um merecido lugar no nosso estabelecimento. Então com vocês:
Vita Ayala – perfil
É uma escritora negra, queer e nova-iorquina com um currículo impressionante e que praticamente está vivendo o sonho de todo fã de quadrinho. Trabalhou em uma loja de quadrinhos, participou do DC Talent Development Workshop e alçou vôos que a levaram trabalhar com praticamente todas as grandes editoras norte-americanas.
The act of creating art is inherently a politcial act [O ato de criar arte é inerentemente um ato político] – Vita Ayala em entrevista para o site IO9
Obras
Com trabalhos publicados junto às editoras Black Mask, Dark Horse, DC Comics, Dynamite, IDW, Image, Marvel, Valiant e Vault, Ayala já escreveu tanto franquias, quanto séries autorais. No quesito franquias, a escritora já assinou materiais como: Mulher Maravilha, Batgirl, SuperGirl, Vixen e a Liga da Justiça, Esquadrão Suicida, Batman do Futuro, X-men, Marvel Knights e Shuri. Além de estar escrevendo Livewire para a Valiant e ter escrito Magic: The Gathering – Chandra para a IDW.
Em Livewire, Ayala assume, pela primeira vez, a direção da personagem criada por Bob Layton e por Joe St. Pierre lá em 1993. Para quem não está familiarizado com a personagem, Livewire é uma super-heroína negra. Seus poderes incluem tecnopatia, artista marcial, especialista em armamentos, sem contar que ela é praticamente um gênio.
Nesta longa entrevista ao pessoal do The Beat ficamos sabendo mais sobre seus planos para a personagem e outros detalhes da publicação (e caramba a capa da primeira edição ficou show).
Ela também já participou das antologias Twisted Romance (Image), Puerto Rico Strong (Lion Forge Comics), Mine!: A celebration of liberty and freedom for all benefitting Planned Parenthood (ComicMix), The Secret Loves of Geeks (Dark Horse), da Cursed Comics Cavalcade (DC Comics), e da This Nightmare Kills Fascists criada por Erick Palicki e Matt Minor.
E não para por aí, pois ela também participou do spin-off Bitch Planet: Triple Feature #4 (Image) da série Bitch Planet e está escrevendo, o também spin-off, Black [AF]: Devil’s Dye (Black Mask).
E antes que eu me esqueça, ela também irá escrever a nova série de Xena: a princesa guerreira pela Dynamite. Entenderam o porquê de eu dizer que o currículo da Vita Ayala é impressionante?
Produção autoral
Ainda mais se levarmos em consideração que a sua estreia no mundo dos quadrinhos aconteceu em 2016 com Our Work Fills The Pews (Black Mask), uma HQ sobre um futuro distópico que reúne os espírito de V de Vingança e Y: O último homem, como nos conta a sua sinopse.
Com essa tour de force, Vita Ayala passou por quase todos os gêneros de histórias em quadrinhos. E ainda não concluímos o conjunto de sua obra.
Em sua página no Patreon, ficamos sabendo que os seus gêneros preferidos são Terror, YA, Super-heróis, Thriller, Drama, Romance. Além disso, ela ocasionalmente também se aventura em prosa. Segundo ela:
“I like to write stories that are fun, but have weight and meat to them. I want people to get sucked into the worlds I write about and be more than satisfied when they finish the last page.” [Tradução minha: Eu gosto de escrever histórias que sejam divertidas, mas que tenham peso e carne nelas. Quero que as pessoas sejam sugadas para os mundos sobre os quais escrevo e fiquem mais do que satisfeitas quando terminarem a última página.]
“If you are looking for stories from the brown, queer, or dfab perspective, you’ve come to the write (heh) place.” [Tradução minha: Se você está procurando por histórias da perspectiva negra, gay ou dfab, você veio ao lugar certo (heh)].
Podemos ver mais dessa faceta de suas obras, em sua entrevista ao site IO9, onde ela faz um pequeno apanhado de suas histórias e suas implicações políticas.
Quanto ao restante de sua obra autoral, Vita Ayala conta com dois títulos atualmente. E que resolvi trazer uma sinopse mais detalhada.
The Wilds (Black Mask Comics)
Série de ficção científica pós-apocalíptica onde, após uma praga cataclísmica varrer os EUA, os sobreviventes se reúnem em cidades-estado. Daisy Walker é uma runner do The Compound, uma espécie de Correios ilícitos. O trabalho de um runner é transportar pessoas, itens e vez ou outra vasculhar as ruínas do mundo antigo. Depois de tantos anos trabalhando, Daisy é a melhor no que faz, mas após o desaparecimento de Heather, sua companheira, ela irá entender que os horrores do mundo de fora não são tão diferentes quantos os encontrados dentro do muro das cidades-estado.
Submerged (Valiant Comics)
Uma obra de fantasia e terror. Na noite da maior tempestade que Nova York já viu, Elysia Puente recebe uma ligação aterrorizante de seu irmão caçula Angel, implorando por ajuda. Após a ligação ser interrompida, Elysia corre pela noite e encontra o celular de Angel em frente a uma barricada em uma estação de metrô. Mergulhando no sinistro submundo dos trilhos, ela corre contra o tempo para encontrá-lo antes que seja tarde demais.
Pronto. Concluímos a obra até então publicada ou em processo de desenvolvimento de Vita Ayala. E como podemos ver, a quadrinista é uma estrela em ascensão. Tendo passeado por diferentes editoras, gêneros e personagens, sua jornada até aqui é de tirar o chapéu e de sentir aquela pontadinha de inveja.
No Brasil
E por aqui no Brasil? Bem, seu trabalho para a DC Comics vem chegando junto a iniciativa Renascimento, mas muito de sua obra permanece inédita por aqui. E se eu estiver errado e alguém souber de mais publicações dela por aqui deixem nos comentários.
O que nos leva ao final dessa nossa postagem com um pequeno pedido. Alô editoras do nosso Brasil, vamos dar uma olhada para algumas das publicações da quadrinista! Principalmente as autorais, e aproveitar para trazer novos ares ao nosso mercado. Representatividade importa. Assim como boas histórias e quando temos isso tudo em um única figura, o que fazemos é espalhar sua palavra por aí.