É engraçado como redescobrimos certas séries no Netflix. Começamos a assistir um episódio, gostamos do que vemos, mas não levamos adiante. E aí um belo dia, elas nos laçam de tal forma que não desgrudamos os olhos da tela. E foi exatamente isso o que aconteceu com Samurai Gourmet, obra inspirada no mangá Nobushi no Gourmet de Masayuki Kusumi e Shigeru Tsuchiyama.
E não sei se foi porque a temática da série me lembrou Gourmet, mangá de Jiro Taniguchi e Masayuki Qusumi, ou por ter me reconhecido em Kasumi e seus dilemas, mas a série me cativou a ponto de percorrer os nove episódios restantes em um único dia. Pois nem só de terror e ficção-cientifica se vive o homem.
Na série, acompanhamos Takeshi Kasumi, um recém aposentado de 60 anos, que após dedicar toda a sua vida adulta a rotina do trabalho corporativo, se depara com uma realidade repleta de tempo livre e uma dose de liberdade que a muito não desfrutava.
Para muitos, o período que sucede a aposentadoria é algo assustador e para tantos outros é praticamente morrer em vida. Digo isto, pois não é fácil se libertar da mentalidade que diz que vivemos para trabalhar e trabalhamos para viver. Tanto que em seu primeiro dia, Kasumi acorda assustado e bravo por ter perdido a hora e só sossega após sua esposa lembrá-lo de sua nova condição. E o que fazer quando você é alçado da rotina dos meros mortais? O que fazer quando a vida recomeça?
Flanar para viver ou da lição de Samurai Gourmet
Seguindo o conselho de sua esposa, Kasumi vai caminhar pelo bairro. Inconscientemente seu corpo o leva a trilhar as mesmas ruas que ele percorreu nos últimos 40 anos a caminho do trabalho. Mas agora, essas mesmas ruas ganham novos contornos graças a calma com a qual ele as percorre. Prestando atenção aos pequenos detalhes, que passam despercebidos graças a correria do dia-a-dia, Kazumi descobre um restaurante e estando na hora do almoço por que não? E estando lá dentro por que não uma cerveja?
E é com este ato simples, mas altamente revolucionário, que Kazumi inicia não só a sua jornada culinária, mas também a redescoberta do prazer de viver. E para isso, Kasumi contará com a ajuda de seu alter ego Samurai. Um nobushi, um samurai livre (não confundir com um Ronin). Uma metáfora para a sua nova posição perante a sociedade.
Com doze episódios, Samurai Gourmet é um convite ao gesto de se fazer uma pausa. Uma pausa para se apreciar esses momentos prazerosos da vida. Seja ele tomar uma cerveja gelada ou comer aquela comida cheia de boas lembranças do passado. Não que a vida de Kasumi passe a se resumir a comer. Longe disso, mas esse ato torna-se um catalisador para uma infinitude de afetos e momentos que transformam a sua vida. Fazendo assim com que ele consiga se reintegrar e se sentir novamente bem consigo mesmo.
Com uma história sensível, e com uma fotografia maravilhosa de pratos incríveis, Samurai Gourmet é uma série para se saborear. E que de quebra que vai colocar no seu rosto várias e várias expressões de satisfação. Tantas quanto as de Kasumi durante a sua prazerosa trajetória pela culinária japonesa e pelo ato de se redescobrir aos 60 anos.
Respostas de 2
Estou assistindo à essa série. Realmente é maravilhosa, delicada. Estou saboreando bem devagar para que não acabe logo. Pena que é tão pequena.
Outra igualmente maravilhosa é Midnight Dinner, uma ode japonesa a relação com a comida. Por essas coisas que amo tanto o Japão.
obrigado por sua crítica, estava me achando um pouco louca
Obrigado pelo comentário e pela indicação, ainda não assisti Midnight Dinner, mas já coloquei aqui na lista.