Sabem aqueles dias em que você está de bobeira procurando por algo para fazer na internet? Era eu algumas semanas atrás e de cantinho em cantinho acabei chegando ao Tapas. E lá encontrei esta pequena preciosidade: O Rei de Lata. Na verdade, primeiro eu encontrei o Jeff, o criador da HQ, no Twitter e assim começou a minha maratona.
Para quem não conhece, o Tapas é um site/app que reúne quadrinistas de todo o mundo e oferece uma plataforma para que eles possam publicar suas histórias em quadrinhos, interagir com o seu público e criar comunidades. E alguns nomes bem interessantes do quadrinhos nacional estão por lá, como a Bianca Pinheiro (Bear, Mônica: Força).
Apresentando o Rei de Lata
Feito esse pequeno parêntese, vamos falar de O Rei de Lata e a minha grata surpresa em encontrá-lo. E quando eu disse que fiz uma pequena maratona não estava brincando. Do tempo entre me inteirar da HQ e ler os seus, até então, 20 capítulos se passaram umas 3 horas. Simplesmente não consegui desgrudar os olhos da tela e da trama contada pelo quadrinista Jefferson Ferreira (Jeff) e ao final da leitura eu estava encantado com todo o universo criado ali.
Personagens envolventes, lutas emocionantes, vilões marcantes, um enredo cativante e que tem muito a oferecer aqueles que se aventuram pela HQ. Tanto que as possibilidades da trama são inúmeras e esperamos que o autor consiga dar vazão aos spin-offs, já mencionados em seu Twitter, para ampliar ainda mais esse universo tão empolgante.
Outro detalhe muito interessante, é que apesar de O Rei de Lata ter sim um protagonista – o pequeno e esquentado José – a sua estrutura é bem parecida com a de Boku no Hero Academia e o que temos é uma estrutura na qual os personagens coadjuvantes são tão ou mais carismáticos que o protagonista criando assim um prazeroso problema aos leitores na hora de se envolver efetivamente com eles. Além disso, a pluralidade de etnias encontrado no hall da HQ é fantástica.
E por falar em elementos fantásticos, quero chamar a atenção para a arte – que é um desbunde por si só. Os traços, as cores e os cortes guiam os nossos olhos de um quadro a outra de uma maneira dinâmica e quase cinematográfica, mas sem perder atenção aos detalhes.
Mas do que se trata o Rei de Lata? Bem, para começarmos a responder isso, vamos a sinopse da HQ e depois vocês terão uma pequena surpresa.
Em um mundo, que após várias guerras, teve seu pior desastre, foi lançada uma arma biológica que praticamente causou a extinção de todo um país. O que não esperavam é que, após o ataque, toda criança nascida era propícia a ter uma espécie de anormalidade no organismo e eventualmente manifestar algum tipo de poder gerado por seu instinto de sobrevivência, trauma ou situação extrema. Por serem os únicos imunes ao ar, passam a ser odiados e temidos por muitos adultos. As super crianças então, tem que lutar pela sobrevivência em um país pós-guerra.
E pensando em como apresentar melhor o Rei de Lata para vocês tive a ideia de trazer o próprio Jeff para conversamos um pouco e para a minha surpresa, eis que ele aceitou. Então fiquem com esse pequeno bate-volta nosso.
10 perguntas para Jeff
1 – Quem é o Jeff? Da onde ele veio e do que se alimenta?
Ai mds, é sempre complicado me apresentar, mas em resumo, sou quadrinista independente e por amor. Me introduzi nesse mundo das ilustrações criando histórias e personagens com meus 8 ou 9 anos de idade, ainda quando morava na zona leste de São Paulo, e hoje em dia morando no sul de Minas Gerais, com 27 anos, continuo fazendo isso, ao mesmo tempo que sou obrigado a ser adulto.
Me alimento muito de ilustrações, gosto muito de ver e observar quadrinhos, muitas vezes sem ler, só observando mesmo, ou ficar horas no Pinterest, vendo os diversos estilos de ilustrações. Gosto de ver cenas de ação também, mó daora.
2 – Quais são as suas referências como artista? Algum HQ ou mangá de cabeceira?
Olha, eu gosto de observar tudo, e não focar em um só ponto, então dificilmente terei nomes para falar, acredito que tudo e todos possuem um potencial para inspiração e ser referência. Maaaaas minha mesa sempre está lotada de quadrinhos da Marvel, e mangás shounen, como Boku no Hero, Naruto e One Punch Man.
3 – Agora sobre o Rei de Lata. Da onde surgiu a ideia para o mangá? Fale um pouco dele para gente.
Cara, é uma longa história. Rei de lata é um amontoado de ideias que tive durante os últimos 10 anos. Ainda quando estava no ensino médio, enquanto fazia um dever de casa folheava um livro e me deparei com uma foto de duas crianças em cima de algo parecido com um lixão ou um ferro velho, e o que mais me chamou a atenção foi que mesmo pela situação as duas crianças estavam se abraçando e sorrindo. A partir daí comecei a imaginar como seria um cenário onde crianças precisam sobreviver por conta própria. Com o tempo fui acrescentando poderes e criando situações, mas tudo sem compromisso, tanto que nem tenho mais os esboços desta época. Foram passando anos e sempre eu voltava com essa ideia e ia mudando uma coisa ali outra aqui e em 2016 eu retomei a ideia pela última vez.
Aquela foto das crianças brincando no lixão se tornou Rei de lata em 2017 e a minha história mais preciosa.
4 – Uma coisa que é impressionante são as cores e os visuais dos personagens. A primeira aparição de José, por exemplo, é incrivel e eu não posso deixar de perguntar, é uma homenagem ao Tetsuo do Akira? E se sim, existem outros easter eggs espalhados por aí?
Engraçado que muita gente me pergunta isso, e o mais engraçado é que não tem nada relacionado a Akira. Não diretamente.
5 – Ainda sobre o José. A relação dele com o Arthur, me fez lembrar a de Guts com Griffith, do mangá Berserk. Podemos esperar um confronto direto entre os dois, como acontece na obra de Kentaro Miura, ou você imagina um final diferente para os dois?
Uma das coisas que mais gosto em roteirizar e produzir Rei de lata, é que a história me permite caminhar por vários caminhos, o que me apresenta várias possibilidades. Muita coisa pode acontecer, mas como eu gosto de seguir o caminho intuitivo e deixar os personagens me guiarem, então não sei responder essa pergunta.
6- Outra coisa muito interessante são os nomes dos personagens e onde muitos autores optam por nomes mais complexos, você preferiu por nomes mais simples, por assim dizer. Como você definiu isso?
Eu sempre fui péssimo em decorar os nomes dos mangás que leio, então decidi facilitar a vidas das pessoas que têm o mesmo problema que eu. E mais do que isso, queria causar familiaridade ou identificação em quem fosse ler. Hora ou outra tem gente me mandando mensagem todo empolgado dizendo que tem o mesmo nome de algum personagem da história. Isso é legal!
7 – Acompanhando o seu twitter, a gente percebe que a sua relação com os seus leitores é muito próxima. Tanto que você criou um personagem em conjunto com eles através de enquetes, como foi esse processo?
Ah, eles são incríveis e divertidos, adoro criar personagens com eles. Inclusive já foram quatro. Além de ser bem legal pela interação com eles, é desafiador pra mim. É interessante saber a preferência dos leitores e tentar adaptar todas as informações ao mundo de Rei de lata, tentando chegar num resultado que faça sentido para história e agrade o pessoal que participou das enquetes.
8 – E na hora de produzir os capítulos, existe alguma playlist que te acompanha?
Enquanto estou na parte do desenvolvimento do roteiro e storyboard, costumo escutar muito instrumentais épicos, ou beats de hip hop. Agora quando estou somente desenhando escuto bastante rap, rock e metal, depende do que estou desenhando, mas sempre tem que combinar o sentimento do desenho.
9 – Existem planos para uma versão física do Rei de Lata? Quais são os planos para José e sua turma?
Eu estava planejando um spin-off contanto uma das aventuras do José, para a CCXP, mas não passei na seletiva para o Artist alley. Agora estou meio sem saber quando, mas ainda quero lançar algo impresso sim.
10 – Acredito que muitas pessoas não conheçam a plataforma Tapas e a produção que acontece por ali. Você teria alguma recomendação para os leitores do De Segunda?
Sim, tem bastante conteúdo showzera e super bem feito. Posso citar alguns títulos:
Dinossauromaru, Almost Comic, Guri, Lanço Celestino, Lucky 7, Serendipty, Psiu, Além desse mundo, O segundo martelo, Sétimos filhos entre outros. Essas foram as que veio na cabeça agora, mas existem várias outras, o que não falta é comic boa por lá.
Então meu povo vão e prestigiem o Rei de Lata, acompanhem o Jeff no Twitter, no Instagram e sempre que puder divulguem a palavra de José, pois ele ainda será o rei do mundo.