Ficha Técnica
Sabor Brasilis
Autores: Pablo Casado e Hector Lima (roteiro), Felipe Cunha e George Schall (arte).
Preço: R$ 45,00
Editora: Zarabatana Books
Publicação: 2012
Número de páginas: 128
Formato: Magazine (21 x 28 cm) Colorido/Preto e branco/Lombada quadrada
Gênero: Comédia
Sinopse: Acompanhamos os bastidores e o dia-a-dia da equipe de roteiristas do fenômeno Sabor Brasilis – a novela que conquistou o Brasil – em sua tensa reta final para responder: Quem matou Olívia Ribeiro?
***
Acredito que nessa imensa aventura civilizatória que é o Brasil não há quem seja indiferente a nossa teledramaturgia. Assim como o futebol, as novelas são amadas e odiadas, vistas como massas de manobra por uns e verdadeiras pérolas culturais por outros. Principalmente aquelas de uma certa emissora carioca. Independente disso, não foram poucas que fizeram nosso país parar em frente a telinha. E Sabor Brasilis vem prestar uma homenagem a todas elas.
Usando e abusando de artifícios, que todo bom noveleiro irá reconhecer, a história é um salamaleque de referências a momentos, nomes e novelas que marcaram o nosso país. Entretanto, essas homenagens não se limitam a um único canal e os autores citam a memética Os Mutantes: Caminhos do Coração e a briga televisa entre os Marinhos e os Bispos pela audiência.
Aliás o que impressiona, em meio a tantas honrarias, é o azeitamento do roteiro. Tudo está devidamente no lugar sem se perder ou produzir um pastiche. E muito disso se deve a decisão dos autores de levar o enredo para os bastidores da produção do folhetim.
Focando nas desventuras de Antonio Callado e sua equipe de roteiristas – Helena, Matheus, Zulu e Lauro – a HQ é um verdadeiro show de metalinguagem que, já adianto, rendeu uma trama muito bem elaborada, engraçada e uma belíssima homenagem.
A metalinguagem de Sabor Brasilis
Abrindo com uma sequência que remete a morte de Odete Roitman, aquele que talvez seja uma das mortes mais lembradas da TV brasileira, a HQ introduz o seu fio condutor: quem matou Olívia Ribeiro? E este fio não serve somente para os leitores, mas também para os próprios protagonistas, já que apesar de toda a pompa do autor Antonio Callado, nem ele e sua equipe possuem a resposta.
E toda esta abertura termina com a apresentação do grupo de roteiristas em uma cena que nos lembra uma chamada de apresentação da mais nova telenovela de um canal.
Toda esta metalinguagem continua quando passamos a acompanhar os personagens em seus cotidianos, pois assim como nos nossos folhetins, eles se comportam como núcleos onde podem se desenvolver e apresentar melhor as suas próprias narrativas.
Deste modo, podemos conhecer o Matheus Carvalho, suas aventuras amorosas, sua predileção por ficção científica, seus amigos descolados que veem as novelas como um produto cultural menor e sua habilidade para construir múltiplos cenários para imbróglio de Sabor Brasilis. Lauro Henrique, suas ambições, sua mesquinharia, a conturbada relação com a esposa, a inveja de Callado e suas maquinações. Helena Souza seu comprometimento com o trabalho, a luta para conciliar trabalho e a criação dos filhos e o sonho de publicar seu livro. João Zulu, seu relacionamento amoroso, o desejo de produzir um filme sobre a realidade brasileira.
Em meio a todas essas histórias cruzadas, vamos acompanhando as já costumeiras repercussões na sociedade, os programas de fofoca se digladiando por furos enquanto comentam os capítulos, os programas televisivos trazendo os bastidores ao público. Enfim, todos os lugares comuns que estamos acostumados quando uma novela arrebata o público. E há todo um cuidado por parte dos criadores da HQ em rechear as páginas com elementos que aumentam ainda mais o reconhecimento de quem as lê.
Entretanto, são nas reuniões de roteiro que estão as melhores cenas. Recheadas de tensão e humor, as cenas garantem boas risadas e fazem com que o quadrinho se desenvolva em um ritmo bem novelesco com os embates entre Callado e Lauro.
Falando no autor de Sabor Brasilis há também uma sequência com o personagem que é um verdadeiro desbunde. Brincando com o espaço e a diagramação da página, a sequência utiliza esses dois elementos para criar o timming dos encontros e ações do personagem como se estivéssemos em um imenso plano sequência.
Sabor Brasilis – uma inusitada paleta de cores
Outro ponto que merece destaque na HQ são as suas cores: roxo e pêssego. E a escolha das cores não poderia ter sido melhor, pois além de contribuírem para a cadência da história criam uma gostosa atmosfera em torno da trama.
Certamente esse argumento ganha ainda mais força ao vermos que as cores funcionam tanto nos momentos cômicos quanto nos de tensão. Funcionando tanto para avivar as expressões dos personagens como para compor os cenários. A sensação é que estamos em pleno verão brasileiro e tudo está efervescente, assim como nos capítulos da novela. Entretanto, Sabor Brasilis não se passa no Rio de Janeiro, mas sim na agitada São Paulo.
A cidade por sua vez também se torna uma personagem sendo referenciada em vários momentos, apesar de alguns detalhes serem perdidos para aqueles que não conhecem a cidade de forma mais íntima.
Uma última curiosidade sobre a escolha das cores,como podemos ver nessa entrevista, é que elas são uma referência a belíssima Asterios Polyp, do americano David Mazzucchelli (Demolidor, Batman: ano um).
Conclusão
Com um roteiro redondinho, Sabor Brasilis é uma deliciosa homenagem as nossas novelas. Demonstrando todo o seu poderio no imaginário popular, o processo de produção, a luta por ibope e tudo isso misturado a uma camada de metalinguagem que produz uma HQ única e com um final hilariante.
Por isso fica aqui a minha dica a todos os noveleiros e amantes da nona arte.
Nota: 5 de 5