Ficha Técnica
Batman – Cavaleiro Branco 3
Autores: Sean Murphy (roteiro e arte), Matt Hollingsworth (cores).
Preço: R$ 7,50
Editora: Ed. Panini / DC Comics
Publicação: Setembro/2018
Número de páginas: 28
Formato: Americano (17 x 26 cm.) Colorido / Lombada com grampos
Gênero: Super-heróis
Link Amazon: Compre aqui
Sinopse: Jack “Coringa” Napier, avança em seu plano para livrar Gotham de suas maior ameaça: o Batman. E para isso ele conta com duas forças imparáveis: os maiores vilões reunidos, e sob seu comando, e a burocracia de contratos de fachada. E o que o Batman irá fazer quando a tragédia bater em sua porta?
Antes de começarmos a falar de Batman – Cavaleiro Branco 3, é necessário fazer um aviso. Na primeira e na segunda edição evitei ao máximo dar qualquer tipo de spoiler, afinal de contas é uma saga recente. Mas para esmiuçar os contornos do roteiro de Sean Murphy é necessário cruzar essa linha, então fica aqui o meu alerta.
As duas Arlequinas
Dito isso, voltemos a Batman – Cavaleiro Branco 2, pois há um fato bastante curioso e que agora se faz urgente para darmos continuidade a trama. Em uma reviravolta, Murphy estabelece a existência de duas Arlequinas. A primeira, é aquela criada por Paul Dini e Bruce Timm, já a segunda é a versão dos Novos 52 e que foi referenciada no filme do Esquadrão Suicida. E apesar de ambas usarem a alcunha de Arlequina, as duas são diametralmente opostas.
Harleen Quinzel, conseguiu se afastar do Coringa, após os anos de abuso, ao perceber que ele não a amava. Na condicional, ela busca por retomar a sua vida livre da loucura. Aqui novamente é citado o assassinato de Jason Todd e ficamos sabendo que Quinzel confrontou o Coringa e auxiliou o Batman em sua tentativa de localizar e salvar o garoto prodígio.
A nova Arlequina surge em algum momento após esse rompimento e o Coringa nem ao menos nota essa mudança. Ainda sem ter o seu nome revelado, esta segunda Arlequina é uma caricatura, uma doppelganger que reflete as nossas visões reducionistas quanto a personagem – “uma cheerleader com peitões”, como a própria Harleen diz.
Essa abordagem é interessante por dois motivos. Primeiro, serve como uma crítica ao que a personagem se tornou ao longo dos anos e da romantização de sua relação com o Coringa. Em segundo plano, cria um gancho narrativo no qual Murphy recupera a ideia de que existindo um Batman, sempre haverá um Coringa e nesse caso uma Neocoringa.
E é apresentando essa nova roupagem para a segunda Arlequina que Batman – Cavaleiro Branco 3 começa.
Peças num tabuleiro
Acrescentando essa nova personagem, Murphy transforma a trama em um jogo de xadrez para três jogadores. Mas é Jack Napier quem mexe as peças do tabuleiro e seu novo movimento é mobilizar todos os vilões do Batman, em um ataque coordenado ao centro econômico de Gotham. E como ele conseguiu isso? Bem, de uma forma nada ortodoxa.
Em Batman – Cavaleiro Branco 2, Jack rouba o mecanismo de controle mental do Chapeleiro Maluco e usou no Cara de Barro. Transformado em pó, o Cara de Barro foi servido aos demais vilões, misturado em bebidas diversas, amplificando assim o sinal da faixa de controle mental.
Atuando como uma magico, Jack utiliza o seu exército para distrair e afastar o Batman e o GCPD de seu real objetivo: obter as provas que comprovam o uso da máquina estatal no custeio das ações do Batman pela cidade. E caso você esteja se perguntando, o Batman custa 3 bilhões de dólares ao ano a cidade de Gotham.
Esta análise socioeconômica e política da atuação do Batman pelas ruas de Gotham é algo sensacional de se ver. Numa verdadeira convocação, Murphy obriga o herói a encarar as consequências de sua cruzada contra o crime e a nós fica a reflexão. Seria mesmo o Batman o guardião de Gotham uu Jack Napier estaria certo ao dizer que a cidade está a mercê de um tirano? 3 bilhões de dólares por ano para limpar a bagunça deixada por um homem vestido de morcego não seriam melhor empregados em políticas públicas voltadas para a população de baixa renda da cidade? Questionamentos, questionamentos.
Easter Eggs
E toda essa revelação é feita numa página dupla cheia de referências. Em uma panorâmica da batcaverna é possível ver diferentes versões do batmóvel, onde é possível listar:
- o batmóvel da animação Batman: a série animada de Bruce Timm e Paul Dini;
- o batmóvel da trilogia de Christopher Nolan;
- o batmóvel da série de 66;
- o batmóvel dos filmes de Tim Burton;
- o batmóvel desenhado por Brian Bolland em “A piada mortal”.
Aliás, falando em Batman, ele permanece como coadjuvante, mas não menos importante.
Batman – Cavaleiro das Trevas x Batman – Cavaleiro Branco
É muito difícil ler a obra de Murphy e não associá-la ao Cavaleiro das Trevas de Frank Miller. São vários os elos que ligam as duas obras, mas é na psique do Batman que podemos traçar alguns paralelos mais fortes.
O Batman de Miller é um tirano autoritário, insano e violento. Uma figura totalmente dominada por sua obsessão e incapaz de se relacionar com os outros a sua volta.
Possuindo, de forma latente, as mesmas características de sua contraparte, o Batman de Murphy é o meio e não o fim dessa trilha. E em Batman – Cavaleiro Branco 3, o que se tem é a impressão de que o Batman está sendo empurrado nessa mesma direção.
A doença de Alfred, a pressão da mídia, criticado pela população e vendo seu modus operandi ser questionado por seus aliados mais próximos, o Batman está desde o início da minissérie por um triz. E nesse terceiro capítulo, temos o momento mais sombrio para o Cruzado Encapuzado e com a morte de Alfred nos deparamos com a pergunta: até onde o Batman poderá ir?
E a fala de Bárbara Gordon para Dick Grayson aponta muito bem o que se esperar para o futuro de Gotham.
Novas peças no tabuleiro
Outro personagem que ganha uma nova roupagem na mão do quadrinista norte-americano é Duke Thomas – o Sinal. Aqui, ele é um ex-forças especiais que agora atua como uma espécie de líder comunitário em Backport, o bairro mais pobre de Gotham e que concentra a população negra da cidade.
Backport é o local escolhido por Napier para ser o ponto de partida de seu plano de revitalização de Gotham e por isso busca pelo apoio de Thomas em sua frente contra o Batman. Uma nova peça, um novo movimento.
E é assim que termina Batman – Cavaleiro Branco 3, com vários ganchos para a próxima edição. Sendo que a única certeza que podemos ter é a de que Sean Murphy vem criando uma das melhores história do Homem-Morcego nos últimos tempos.
Nota: 4 de 5.