Ficha Técnica
Batman: Os Três Coringas vol 01
Autores: Geoff Johns (roteiro), Jason Fabok (desenhos) e Brad Anderson (cores)
Tradução e Adaptação: Rodrigo Oliveira (tradução) e Pedro Catarino (adaptação)
Letras: Wesley Souza
Preço: R$ 14,90
Editora: DC Comics / Panini
Publicação: Março / 2021
Número de páginas: 48
Formato: (17X26 cm) Colorida / Lombada Quadrada / Capa brochura
Gênero: Super-heróis
Sinopse: Após oito décadas, um dos maiores mistérios de Gotham começa a ser revelado: a identidade do Coringa. E para responder quem – ou o que – é o Coringa, Batman precisará se unir a Batgirl e ao Capuz Vermelho.
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O ano é 2016. Os Novos 52 estão em seus momentos finais após uma série de problemas e rejeição do público. E para arrumar a casa, Geoff Johns, Jason Fabok e Brad Anderson encabeçam a saga A Guerra Darkseid que entre outras coisas revelam a existência não de um, mas de três Coringas atuando no universo DC. Agora, cinco anos depois, a mesma equipe retorna para finalmente responder este mistério envolto numa espiral de fumaça e espelhos com Batman: Os três Coringas vol. 1.
Contudo, antes de continuarmos, um pequeno aviso. Mesmo tendo origens na continuidade do personagem, a trama ignora uma série de eventos ocorridos nos últimos anos do Cavaleiro das Trevas e permanece, até então, como uma minissérie independente. E mesmo requerendo algumas informações prévias acerca dos personagens principais pode ser lida tranquilamente por novos leitores. Dito isso, avancemos, pois há muita coisa ainda a ser dita.
Quem são os três Coringas?
Para responder a esta pergunta, Geoff Johns nos leva por um tratado acerca do trauma. E para isso ele reúne Batman, Batgirl e Capuz Vermelho para resolverem não um, mas três crimes diferentes envolvendo o Coringa.
Para os fãs mais antigos, trazer especificamente estes membros da bat-família é uma decisão óbvia, mas o roteirista faz uma bela costura ligando os momentos mais dolorosos de suas vidas aos crimes cometidos pelo arquirrival do Cruzado Encapuzado. Assim sendo, vemos mais uma vez o assassinato dos pais de Bruce, o atentado sofrido por Barbara Gordon e o espancamento de Jason Todd. Destes três acontecimentos, o Coringa atuou de forma direta em dois, como os flashbacks nos lembram, mas de forma bastante sutil Johns coloca uma pulga atrás de nossas orelhas e lá no fundo surge à pergunta “e se ele estivesse envolvido nos três?”.
Este gancho nos leva de volta à questão sobre a identidade do Coringa e o que vemos são três facetas diferentes do mesmo personagem ganhando vida: o criminoso, o comediante e o palhaço. Aliás, a caracterização de cada um deles é fenomenal e mostra o cuidado que tanto Johns quanto Fabok tiveram para individualizá-los.
O Coringa Criminoso
Vindo diretamente da Era de Ouro, suas roupas e trejeitos são inspirados na versão criada por Bob Kane, Bill Finger e Jerry Robinson e que estreou na revista Batman #01 de Abril de 1940. Reparem bem na pose em sua primeira aparição – uma releitura da mesma cena de oito décadas atrás.
Mais frio e calculista, esse Coringa é um verdadeiro gênio do crime e continua a sua guerra ao crime organizado, sendo o principal suspeito dos assassinatos dos membros da família criminosa Moxon.
Considerado pelos outros dois Coringas como o chefe ou o mais próximo disso quando estamos falando de seres caóticos. Além disso, essa versão não sorri ou gargalha como os demais, dando a ele uma aura ainda mais apavorante.
O Coringa Comediante
Este é o Coringa de A Piada Mortal. Psicótico, mau e totalmente imprevisível, ele está sempre com um sorriso no rosto e em sua aparição ele está trajado reverenciando a passagem mais cruel do clássico saído das mãos de Alan Moore e Brian Bolland – sua clássica camiseta havaiana e seu chapéu roxo. Que aqui também possui ligações com o assassinato de um famoso comediante e ativista cultural da cidade de Gotham.
O Coringa Palhaço
O terceiro e último Coringa é inspirado no espírito zombeteiro do personagem dos anos 40 e 50, e apesar de tudo nele ser mais brilhante, cômico e brega, é ele o responsável pela morte de Jason Todd em Uma morte na família.
Reforçando este clima mais caricato do vilão, Johns e Fabok dão a ele uma gangue, que remete ao antigo seriado da década de sessenta, onde os nomes do capangas são as onomatopeias de socos e chutes.
Porém o mais impactante desta caracterização de cada Coringa é que ela não serve somente para preencher este primeiro volume de easter eggs e referências a outras HQs clássicas do Batman. Os componentes de A Piada Mortal e de Uma morte na família se ligam de forma orgânica e ainda criam espaço para a ideia de super-sanidade desenvolvida por Grant Morrison em Asilo Arkham – Uma Séria Casa em um Sério Mundo.
Para quem não sabe, a super-sanidade seria a capacidade do Coringa em sempre se transmutar em algo novo para lidar com o caos da vida moderna e consequentemente trazendo novos desafios ao Detetive das Sombras. Algo que já vimos levar o vilão a caminhos bem interessantes como, por exemplo em Noites de trevas: Metal 4.
E tudo isso está em prol da narrativa de Johns e seu quase conto detetivesco. De uma forma bem amarrada, diga-se de passagem.
Um quase conto de detetives
Todo este esmero em torno dos Arlequins do ódio também é visto no outro trio da trama. Batman, Batgirl e Capuz Vermelho estão muito bem representados e o que vemos são três vigilantes com métodos e objetivos bem diferentes. Ao passo que para ir ainda mais fundo nessa caracterização dos personagens vemos Johns explorar as suas essências.
Em Batman: Os Três Coringas vol.01 temos um Batman sombrio e assombrado, mas que pode deixar seu orgulho de lado; uma Batgirl otimista e preocupada com o bem estar de seus companheiros e um Capuz Vermelho marcado pela raiva e sem saber como pedir ajuda.
Três heróis marcados por momentos traumáticos, que se não os definiram por completos, os fizeram trilhar os caminhos que estão hoje. E a interação entre eles rouba a cena e é possível sentir a tensão no trio a cada movimento da investigação, reflexo das décadas de conversas não ditas e meias palavras que tanto marcaram a bat-família.
E é por isso que este primeiro volume, que tem como fio condutor uma série de crimes, não é bem um conto que explora as habilidades investigativas dos personagens. Os delitos em Batman: Os Três Coringas vol.01 são degraus e ganchos para Johns nos levar, como dissemos anteriormente, por seu tratado acerca do preço pago pelos heróis em suas vidas como combatentes do crime. Por isso a celeridade com que os personagens se locomovem entre as cenas da investigação. O que pode causar um pouco de frustração para quem gostaria de ver mais deste lado dos protagonistas.
A arte de Batman: Os Três Coringas vol 01
Antes de concluirmos é necessário falar do trabalho primoroso de Jason Fabok nas artes e de Brad Anderson nas cores. Pois desde o momento em que se abre a HQ o vemos é um verdadeiro desbunde e com direito a easter eggs logo na primeira página.
E falando sobre essas referências, principalmente as referentes ao trabalho de Brian Bolland em A Piada Mortal, são totalmente transparentes e os leitores mais atentos vão pegá-las logo de cara. Consequentemente, cada quadro da HQ possui uma alta dose de complexidade, contando com vários elementos para nos guiar o olhar. O que fica ainda mais fácil com as cores utilizadas por Brad Anderson que fazem as cenas saltarem das páginas.
Fato esse que vocês poderão visualizar na dolorosa sequência inicial na qual a dupla revisita uma clássica cena de Alex Ross e diferentes embates com seus vilões, sobrando até mesmo para outra cena icônica de A queda do morcego.
Conclusão
Batman: Os Três Coringas vol.01 emprega com maestria antigas histórias do Cavaleiro das Trevas para compor junto com elas um ensaio sobre a violência. Além disso, revitaliza a antiga provocação do Coringa de que basta apenas um dia ruim para transformar a vida de alguém. Não à toa a história foca em como Batman, Batgirl e Capuz Vermelho reagiram às suas tragédias.
Desta forma, Geoff Johns abre espaço para novas questões, aprofundando temas até então pouco explorados da bat-família. Como por exemplo, a forma que Jason Todd lidou com todo o seu martírio e ressurreição. Algo que podemos ver no dálogo entre ele e o flagelo de Gotham ao final da HQ é de tirar o chapéu.
Mas, como nem tudo são flores, fica aqui uma preocupação quanto à forma que o roteirista irá lidar com Barbara Gordon.
O que aconteceu com ela em A Piada Mortal é discutido até hoje, tanto as minúcias do que realmente ocorreu até a forma como a personagem foi utilizada para motivar o Batman em sua caçada ao Coringa. E embora ela tenha uma agenda própria neste primeiro volume, ainda encontramos alguns ecos problemáticos quanto a sua representação
No começo da HQ, há uma curta cena em que Barbara está tomando banho e vemos a cicatriz do ferimento à bala. Apesar da cena não ter teor sexual, acredito que trabalhando num meio no qual super-heroínas são sexualizadas há tanto tempo, é necessário um cuidado extra. E apesar disso não ter atrapalhado a leitura, acho importante abordar.
Encerrando, espero que o segundo volume se mantenha a altura e que Johns possa nos contar quem são e o que querem os três Coringas de Gotham
Nota: 3 de 5