Ficha técnica
Batman: Os Três Coringas vol 03
Autores: Geoff Johns (roteiro), Jason Fabok (desenhos) e Brad Anderson (cores)
Tradução e Adaptação: Rodrigo Oliveira (tradução) e Pedro Catarino (adaptação)
Letras: Wesley Souza
Preço: R$ 14,90
Editora: DC Comics / Panini
Publicação: Maio / 2021
Número de páginas: 48
Formato: (17X26 cm) Colorida / Lombada Quadrada / Capa brochura
Gênero: Super-heróis
Sinopse: Batman, Batgirl e o Capuz Vermelho se preparam para o embate final com os Coringas, unindo forças para evitar que os palhaços concluam o seu maléfico plano, os cavaleiros de Gotham finalmente descobrem a verdade sobre os três vilões e a explicação definitiva sobre a relação entre Batman e o Coringa é revelada.
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A obsessão do Coringa pelo Batman é algo já conhecido há bastante tempo e não são poucas as histórias que abordam esse tema. Não é à toa que podemos dizer que este é um dos motivadores, se não o principal, do palhaço do crime. E em Batman: Os Três Coringas vol 03, conclusão da minissérie de Geoff Johns e equipe, iremos ter um vislumbre do quão longe essa compulsão pode ir. O que por sua vez, fará com que a história ganhe novos contornos e faça uma guinada que alguns podem julgar como preguiçosa.
No volume anterior, vimos Johns focar no drama vivido por Jason Todd e sua existência marcada pela violência para emular A piada mortal. Fazendo assim com que as dúvidas, se estávamos ou não diante de uma sequência do clássico de Alan Moore fossem esclarecidas. Paralelo a isso, o roteirista nos revelou que os planos dos coringas envolviam o sequestro de Joe Chill, dando assim um indicativo de que esta última parte iria se centrar em Bruce e seu próprio trauma.
Batman: Os Três Coringas vol 03 e suas subtramas perdidas
Começando este último volume com nossos protagonistas discutindo o plano e os mistérios envolvendo a origem dos vilões, Johns faz questão de nos lembrar: esta é uma história sobre o sofrimento psíquico que os personagens carregam. Especialmente Jason e Bruce que, em mais uma briga, demonstram o quão longe estão de se entenderem. A propósito, isso não seria um problema desde que o roteirista levasse os personagens a algum lugar, para além desses rompantes de fúria.
Com efeito, o que se percebe nesse terceiro e último volume é que a minissérie se canibalizou. Sem tempo para desenvolver tudo o que foi abordado nas duas primeiras partes, determinados elementos abordados são colocados para escanteio e quem mais sofre com isso é justamente Jason Todd e Barbara Gordon.
Reduzindo a HQ ao binômio Batman-Coringa, os outros dois membros da bat-família são relegados a uma subtrama amorosa que só está ali para cumprir tabela. Mesmo que ao final ecoe a ideia de total casualidade pregada pelo Coringa para as agruras da vida. Contudo, ver os dois sendo tratados de tal forma é um desserviço a própria proposta de trabalhar os traumas dos personagens e a sua relação com o palhaço do crime.
Afinal de contas, o que os dois aprenderam no final da jornada? Por que não finalizar o arco de Jason iniciado no volume anterior? E principalmente, por que não explorar a dor de Barbara para além do simbolismo óbvio de vê-la quebrando a câmera do próprio Coringa em seu rosto?
E tempo não foi o que faltou para Batman: Os Três Coringas, trabalhar todas essas questões. Tendo praticamente o triplo de tempo de A Piada Mortal o que faltou foi um melhor aproveitamento e direcionamento do enredo, de tal forma que o que sobra no texto de Alan Moore, falta no texto de Geoff Johns: exatidão.
Porém, se o roteirista norte-americano peca com o Capuz Vermelho e com a Batgirl, o mesmo não se pode dizer quanto ao Batman.
A Piada Mortal, Geoff Johns e a origem do Coringa
De todo esse salamaleque criado por Johns, Bruce é o único a sair realmente com algo. Apesar de não ser algo relativamente novo, já vimos Bruce confrontar Joe Chill em outras HQs, Johns consegue dar aos dois um momento sincero para que ambos possam dar um passo adiante. Ver que Bruce possui a capacidade de perdoar o assassino de seus pais é uma forma bastante gratificante de terminar uma história sobre traumas.
Mas apesar deste momento ser recompensador é também bastante curto, já que o foco é o embate entre o Cavaleiro das Trevas e os dois últimos Coringas, amarrando de vez a minissérie ao clássico oitentista de Moore. E o que antes se tratava apenas de referências aqui e acolá, torna-se enfim uma continuação direta, a ponto do final só funcionar se você tiver lido a HQ de Moore.
O problema disso é que Batman: Os Três Coringas não é uma sequência a altura. E pior ainda comete alguns erros crassos no entendimento do que foi feito pelo mago de Northampton para a construção do arlequim do ódio. E digo isso, pois o que vemos aqui é uma corruptela da ideia de “apenas um dia ruim”, tornando-a inócua, acabando com todo mistério da origem do vilão. Conforme a sutileza do texto de Moore se esvai, o que sobra é um personagem unidimensional à medida que os flashbacks de A Piada Mortal são confirmados como reais memórias de um homem abusador.
Os três Coringas
Sim. É isso mesmo o que você leu. Johns foca a sua atenção no Comediante e o torna como o verdadeiro Coringa, mesmo que tente desconversar mais para o final. Tudo isso é possível graças a essa nova interpretação, não muito feliz, dada pelo roteirista norte-americano a obra de Alan Moore. E para não deixar dúvidas quanto à origem do Comediante, temos uma sequência inteira do vilão contando ao Batman como arquitetou o seu plano e o porquê de tê-lo feito e outra na qual o detetive das sombras confirma a identidade do vilão.
Mas o que era para ser um grande estrondo, se torna um estalinho pelo principal defeito da minissérie: a falta de desenvolvimento. Pois, você quer mesmo acreditar que o maior detetive do mundo saberia a verdade sobre seu arquirrival, mas não teria um ou outro palpite sobre a identidade dos outros dois coringas? Difícil de aceitar.
E mesmo que o Coringa criminoso tenha um pouco mais de destaque aqui, a história termina sem explorar o grande mistério criado pelo próprio Geoff Johns ao final dos Novos 52.
Conclusão
Alguns dizem que o que importa não é o final, mas sim a trajetória percorrida e acredito que esta máxima se aplique bem aqui. A proposta de Johns, o ritmo da história em alguns momentos e principalmente a arte de Jason Fabok e as cores de Brad Anderson.
O trabalho dos dois artistas compensa, e muito, os defeitos do texto da HQ. Fabok faz questão de encher as páginas com lindos quadros silenciosos, assim como sequências explosivas de tirar o fôlego. Além de detalhes e easter eggs nos momentos certos fazendo com que a gente se detenha aqui e ali com mais atenção. Por sua vez, o uso das cores de Anderson é certeiro e me faz lembrar o trabalho de Sean Murphy em sua série Cavaleiro Branco. O colorista faz um belíssimo uso de cores quentes e frias para compor as cenas e intensificando os sentimentos dos personagens.
Em suma, Batman: Os Três Coringas vol 03 não é a conclusão que esperávamos e a minissérie não é a obra prima que nos prometeram. Falta acurácia, sobriedade, mas, sobretudo direcionamento por parte de Geoff Johns para atingir o que Moore fez décadas atrás com o Cavaleiro das Trevas. Uma pena, visto que o seu trabalho em O Relógio do Juízo Final tomou outras proporções e soube utilizar muito bem a caixinha de ferramentas do roteirista inglês. Prova de que às vezes, um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.
Nota: 2 de 5.