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Críticas de segunda e Opiniões de quinta sobre Quadrinhos

Por Thiago de Oliveira

buzzkill o poder é uma droga review

Buzzkill – o poder é uma droga

Ruben é um super-herói e também um alcoolista. Acompanhe a sua jornada rumo a sobriedade.

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Ficha técnica

Buzzkill o poder é uma droga capa
Capa de: Geoff Shaw

Buzzkill – o poder é uma droga
Autores: Donny Cates (roteiro), Mark Reznicek (roteiro), Geoff Shaw (arte), Lauren Affe (cores e letras)
Tradução: Marquito Maia
Preço: R$ 50,00
Editora: Devir / Image Comics
Publicação: 2021
Número de páginas: 104
Formato: 17 x 26 cm/Colorido/Brochura
Gênero: Super-heróis

Sinopse: Ruben não é uma pessoa comum. Ele é um poderoso super-herói que ganha seus poderes ao consumir álcool, drogas ilícitas, cigarro e outras comidas e bebidas estimulantes. Ruben também é um alcoolista e um dia, para enfrentar uma ameaça que poderia destruir a Terra, ele bebeu até apagar. Ele salvou o mundo… mas nem sabe como. Acompanhe a sua reabilitação em busca da sobriedade e de sua vida perdida.

***

Eu não costumo falar de quadrinhos que não gosto. É meio que uma regra implícita aqui do blog, pois nessa vida corrida nossa do dia a dia gastar energia e tempo com aquilo que não se gosta é, no mínimo, complicado. Porém, há uma outra regra implícita do blog que é: para um quadrinho ganhar um texto por aqui, ele precisa causar alguma emoção e posteriormente uma reflexão. Esse foi o caso de Buzzkill: o poder é uma droga.

Não que a emoção tenha sido das melhores, mas acho que ele é uma excelente oportunidade para discutir algo que vira e mexe encontro por aí: bons argumentos que são atropelados pela falta de condução de seus criadores.

Por aqui, Cates e Reznicek partem da seguinte premissa: um super-herói que ganha seus poderes através do consumo de substâncias estimulantes, mas que com o tempo torna-se um dependente químico irresponsável consigo e com os outros ao seu redor. Em busca de sua sobriedade, ele entra no A.A e passa a seguir os doze passos do projeto, o que o faz ir atrás das pessoas que magoou.

A ideia de utilizar o consumo de álcool como metáfora para a sensação de invulnerabilidade, que muitos de nós sentimos ao utilizarmos essa substância, foi uma grande sacada. Tanto que na contracapa temos o roteirista Mark Waid dizendo: “Nossa, por que não pensei nisso antes”. Contudo, a coisa fica por aí e o que se vê nas páginas a seguir é a dupla de criadores dando um passo maior que as pernas.

Abraçando o mundo

Imagem de: Geoff Shaw

Donny Cates é um nome que ganhou bastante notoriedade graças a sua série Crossover (indicada ao Eisner em 2021), sua fase junto ao Venom e pela elogiada God Country, que para alguns é o seu melhor trabalho. Já seu parceiro, Mark Reznicek, não parece ter produzido outros títulos. O que coloca Buzzkill no rol de obras incipientes, de autores que estão à procura de uma voz e famintos por contarem as suas próprias histórias. Ao passo que sobra vontade e falta precisão.

Sabe quando você tem aquela ideia fantástica e tudo nela é muito importante? É o que acontece aqui. Você tem uma história que poderia ter uma grande carga dramática, mas que se perde em uma trocação de socos vazia. Ao mesmo tempo, em que você também tem grandes embates físicos, mas que não desenvolvem os personagens. É tudo muito corrido nas 104 páginas da HQ.

Um exemplo claro disso é a tentativa de se emular a dinâmica Superman-Batman com direito a um triângulo amoroso (alô Snyder) e que é tão pouco abordado que não se sustenta. Sem contar que o grande duelo final, envolvendo um segredo do passado do protagonista, é xoxo, capenga. Sendo a culpa disso tudo a falta de tempo para que o leitor se importe com tudo o que está acontecendo. O resultado é que boas ideias vão sendo jogadas em uma tentativa de que algo produza alguma reação. O que é uma pena, pois, de novo, o argumento criado por Cates e Reznicek é uma excelente alegoria e poderia ter rendido boas discussões. 

A arte de editar

Ao final da leitura de Buzzkill – o poder é uma droga me peguei pensando no trabalho do editor, suas funções e a dificuldade que é orientar um processo criativo. Uma vez que a edição não deve ser necessariamente uma constante batalha entre o editor e o criador, mas que certamente implica em uma delicada colaboração.

Editar é saber cortar a gordura, lapidar arestas e indicar caminhos. O editor deve discutir o roteiro, orientar a arte, além de se atentar à questão da continuidade e outros detalhes como: anatomia, objetos em cena, localidade da história e outros pormenores. Em último caso, a pessoa que exerce essa função deve conhecer a história tão bem quanto quem a está criando, mas também qual público se quer atingir.

Por isso que se deve estar tranquilo quanto ao que cortar, sempre tendo em mente aquilo que é melhor para a história. E Buzzkill precisava disso e muito, levando em consideração o tempo e o espaço que o quadrinho tinha para se desenvolver. 

Algo semelhante ocorre em muitas produções independentes. O que pode ser justificado pela falta de um olhar externo à obra que ajude tanto criador quanto criatura a chegarem a um denominador comum. Por isso digo que editar, além de uma arte, é também saber aonde se quer chegar com uma história. Daí a minha dica: às vezes menos é mais. É clichê, eu sei, mas não significa que não seja verdade.

Conclusão

Claro que é possível fazer uma história dramática e com cenas deliciosamente espalhafatosas que só o gênero de super-herói é capaz de produzir. O próprio Mark Waid, que adoraria ter pensado no mote de Buzzkill – o poder é uma droga, já o fez com o seu Reino do Amanhã e em sua série Imperdoável. Entretanto o roteiro de Cates e Reznicek peca e não sai de uma mera promessa.

Por isso, passemos para o próximo título na pilha de leitura para tirarmos o gosto amargo da boca. 

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