Ficha Técnica
Capitão Feio – Tormenta
Autores: Magno Costa (roteiro) e Marcelo Costa (arte)
Preço: R$ 31,90
Editora: Panini / Mauricio de Souza Produções
Publicação: Dezembro / 2019
Número de páginas: 100
Formato: (19 cm x 26 cm) Colorida / Lombada Quadrada / Capa brochura
Gênero: Juvenil
Sinopse: Feio está aprimorando o domínio de seus poderes, mas tenebrosas nuvens se aglomeram no horizonte. Uma nova ameaça avança sobre o vilão e ele irá enfrentar um poderoso oponente; e revelações sobre o passado abrem novas portas para o futuro.
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Na cultura pop não são poucas as sequências que superaram os seus antecessores. E não são poucos os exemplos disso na nona arte, tanto que o próprio selo Graphic MSP não me deixa mentir, tendo já publicado excelentes continuações como Penadinho: Lar e a saga do Astronauta que a cada história se supera. E bem, podem colocar Capitão Feio: Tormenta nesta conta, pois o salto qualitativo que vemos aqui é acachapante.
Aprofundando e expandindo o universo do encardido vilão, este segundo volume entrega uma HQ repleta de novos personagens, ação na medida certa e pungentes pilares daquilo que pode vir a ser um grandioso arco. Pois, o que não falta são ganchos e pistas colocados habilmente aqui e acolá.
E adianto que fica aqui a minha torcida para que os irmãos Magno e Marcelo Costa tenham um longo período à frente do personagem. Primeiramente, porque é nítido o quão à vontade os irmãos estão com o personagem, e segundo porque penso o quanto eles ainda podem alcançar com ele.
Tanto que não consigo deixar de pensar que o material possa se tornar um segundo ramo mais longínquo do selo. Ficando o Astronauta de Danilo Beyruth como a linha de ficção científica e o Capitão Feio como a linha de super-herói da Graphic MSP.
Remexendo o passado
Continuação direta dos eventos de Capitão Feio: Identidade, a HQ começa apresentando as irmãs Cremilda e Clotilde, antigas vilãs do Cascão e que aqui são reformuladas como policiais pertencentes ao grupo comandado pelo Doutor Olimpo, caçando um estranho ser.
O mais interessante nesta abertura é como ela concentra tanto o tom quanto a métrica narrativa da HQ. Há mistério, pancadaria, novos personagens entrando em cena e tudo girando em torno do sujismundo e carrancudo Capitão Feio. E todo este conjunto de acontecimentos criam no quadrinho um fluxo que move facilmente o leitor por suas páginas. Não à toa que, uma vez nas suas mãos, você dificilmente vai largá-lo antes do final.
Voltando à trama, após estabelecerem o ritmo a ser seguido, Magno e Marcelo Costa dão três passos adiante e vemos Feio já com suas Criaturas do Lixo, revelando assim que a extensão de seus poderes aumentaram. Além disso, os mistérios que cercam o seu passado começam a serem remexidos, pois atormentado por estranhos sonhos e flashbacks o personagem percorre a cidade atrás de respostas sobre sua família.
E há aqui um cativante desenvolvimento do personagem, pois ao explorar este lado do protagonista vemos o surgimento de uma subtrama que não só serve para humanizá-lo, mas também criar um contraponto mostrando os efeitos dos atos do meta-humano na sociedade. Além de inegavelmente servir como um gancho para o futuro, principalmente se repararmos na quantidade de espaço que Cascão e seus pais ganham no decorrer da história.
Tormenta à vista
Entretanto, o dono da festa nesta sequência é o conflito entre o Capitão Feio e o vilão Cumulus. Que aqui, me desculpem o trocadilho, ganha ares bem mais psicóticos.
Um fato curioso é que, e não podemos afirmar que foi feito de forma consciente, muito da hostilidade entre os dois me fez lembrar de um outro antagonismo de dois personagens do universo do Homem-Aranha: Venom e Carnificina.
Em sua loucura Cumulus estabelece uma ligação entre ele e o Capitão, como se o segundo fosse responsável por sua libertação no mundo e que ambos teriam muito mais a ganhar se trabalhassem juntos. Todavia, não só a personalidade dos dois é diametralmente oposta, mas também seus objetivos: Feio quer encontrar paz e um espaço seu, Cumulus é a encarnação da raiva e da vingança. O embate entre eles passa a ser inevitável.
Mas a briga entre os dois se espalhará não só pela cidade, mas como terá seu epicentro na BRASA, o órgão para o qual o Astronauta trabalha, criando assim espaço para um crossover com outros personagens do selo Graphic MSP. Assim como reforça a ideia de que todas as histórias se passam em um mesmo universo, assim como na linha principal das publicações da Maurício de Souza Editora.
Conclusão
Capitão Feio: Tormenta é uma grata sequência e uma evolução do trabalho de Magno Costa e Marcelo Costa com o personagem. Como dissemos anteriormente, há muito esmero por parte dos quadrinistas e o produto final é uma HQ explosiva e com muitos méritos.
Muito disso vem de sua estrutura, que consegue criar diferentes pontos de interesse para o leitor. Sempre há algo acontecendo nas páginas e tudo ali há uma razão de ser. E é nítido o esforço do roteiro em fazer com que um novo capítulo seja produzido, pois o que não falta ali são elementos para isso.
Em relação à arte, mais uma vez o recurso de páginas duplas é exemplarmente utilizado, valorizando as grandiosas sequências de ação da HQ. E há vários momentos nos quais nos sentimos frente a verdadeiros titãs em combate, elevando os antagonistas a posições colossais. O único problema em relação ao traço do Marcelo Costa é que, assim como o desenhista John Byrne, o quadrinista brasileiro reproduz pequenos adultos no lugar de crianças.
Por fim, reforço o meu desejo de que a saga ganhe um terceiro capítulo uma vez que todo bom trabalho merece ser recompensado e os irmãos Costa possuem competência para alçar o clássico antagonista da Turma da Mônica a um outro status.
Nota: 4 de 5