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Críticas de segunda e Opiniões de quinta sobre Quadrinhos

Por Thiago de Oliveira

Cascão: Temporal review | De Segunda

Cascão: Temporal

Cascão: Temporal é mais do que somente um retrato, não oficial e nem intencional, do nosso isolamento. A HQ é um pequeno tratado de como a imaginação pode nos levar mais longe.

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Ficha Técnica

Cascão: Temporal capa
Capa de: Camilo Solano

Cascão: Temporal
Autores: Camilo Solano (roteiro e arte)
Preço: R$31,90
Editora: Panini Brasil / Mauricio de Souza Editora – Graphic MSP
Publicação: Março / 2020
Número de páginas: 96
Formato: Americano (19 x 27,5 cm) Colorida / Lombada Quadrada / Capa cartão
Gênero: Juvenil

Sinopse: Com seus pais indo num cruzeiro de 3 dias, só resta a um reticente Cascão passar um tempo com o seu estranho tio Gerson. E quando as coisas não poderiam piorar a previsão é de um temporal para os próximos dias

Introdução

Em 2020, quando Cascão: Temporal foi publicada, o que mais se via nas redes sociais eram comentários correlacionando o enredo da HQ com o momento de lockdown que estávamos vivendo. Confinados em nossas residências, às vezes com quem não queremos, sem termos muito o que fazer e com tempo de sobra, não tinha como obra e realidade não se confundirem. Mas o que o quadrinista Camilo Solano faz é mais do que apenas narrar, de forma não intencional, os nossos loucos dias de pandemia. Há no gibi uma ode à imaginação como modo de existir e de educar. 

Arte de: Camilo Solano

Para aqueles que convivem de forma mais íntima com crianças é de conhecimento o quão rápido elas podem ficar entediadas e facilmente mal-humoradas em ambientes estranhos. E é nessa situação que, graças a uma viagem de seus pais no feriado, que Cascão se vê. Levado para passar alguns dias na casa do esquisito e não muito próximo tio Gerson, o que já era um pesadelo fica ainda pior graças a um enorme temporal. 

Sem poder sair de casa, por conta de um incidente natural, entediado e mal-humorado. Essa seria a descrição do Cascão nesses três dias de feriado e a de muitos do lado de cá das páginas, porém o nosso pequeno hidrofóbico conta com algo que não temos aqui fora: a inventividade e a disposição de seu tio em criar novas formas de se entreter. 

Tio Gerson

Atuando um pouco como o Louco para o Cebolinha, Gerson não é um personagem novato e, como ficamos sabemos nos extras, deu as caras em novembro de 2002. E desde lá já mostrava toda a sua ginga para deixar o sobrinho desconcertado com seus presentes inusitados. Porém aqui em Cascão: Temporal o personagem funciona não só como um trickster, mas como um mentor. 

Guiando ora pelo exemplo ora pela palavra, o personagem propõe a Cascão novas formas de lidar com o seu confinamento. Seja apresentando antigas formas de se divertir, como o teatro de sombras, deslocando-se pelo universo dos quadrinhos, criando narrativas incríveis e máquinas impossíveis. Para Gerson não há espaço para o tédio em sua vida. E com criatividade é possível ressignificar todos os instantes transformando-os em momentos fantásticos e é isso que ele vai ensinando pouco a pouco ao Cascão.

Arte de: Camilo Solano

Todo esse processo ocorre como uma troca entre tio e sobrinho. Algo que fica bem evidente na sequência no escritório onde Gerson guarda a sua coleção, completa diga-se de passagem, de Capitão Pitoco para delírio do . Mas este é um entre vários momentos na HQ onde os personagens se aproximam e exploram afinidades e diferenças. 

Aliás, Solano explora a individualidade dos personagens em primorosas sequências silenciosas que dizem muita, mas muita coisa. Resultado de um roteiro simples, mas bastante engenhoso e comovente.

Easter eggs

Roteiro esse que vem recheado de easter eggs e menções ao universo das Graphic MSP, mas também a outros quadrinhos brasileiros e até mesmo a fase dos novos 52 da DC Comics.

Contudo, entre as alusões a mais interessante é a que liga o passado do Tio Gerson a do nada convencional Licurgo Orival Umbelino Cafiaspirino de Oliveira, o Louco. De forma sútil, Solano une os dois personagens mais peculiares da Turma da Mônica e cria uma nova camada na amizade entre Cascão e Cebolinha.

Conclusão

Antes de concluirmos, é necessário fazer um adendo sobre a arte e a paleta de cores utilizada por Camilo Solano. Sendo meu primeiro contato com o quadrinista, seu traço me remeteu a algo meio Mutarelli com personagens disformes e bastante caricatos. Já as cores da HQ alternam entre cores mais quentes e frias para destacar os momentos imaginados por tio e sobrinho. 

Entregando uma história onde a imaginação e a criação de laços ocupam papéis centrais no enredo Cascão: Temporal, o vigésimo sexto volume do selo Graphic MSP, é uma divertida e emocionante aventura do nosso amigo que não gosta de água. Sem contar que é uma excelente oportunidade para novos e antigos leitores se conectarem com o personagem.

Nota: 4 de 5

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