Ficha Técnica
Lex Luthor: Biografia Não Autorizada
Autores: James D Hudnall (roteiro), Eduardo Barreto (desenhos) e Adam Kubert (cores)
Tradução: Fabiano Denardin – ‘Fd; Oggh’, Eduardo “Edu” Tanaka, Paulo França – ‘Pf’, Alexandre Callari
Letras: Donizeti Amorim – ‘Don Dutch’
Preço: R$ 35,90
Editora: DC Comics / Panini
Publicação: Fevereiro / 2019
Número de páginas: 92
Formato: (19 X 28 cm) Colorida / Capa dura
Gênero: Super-heróis
Sinopse: O jornalista Peter Sands está em um mau momento e, desesperado por dinheiro, aceita um novo projeto: uma biografia não autorizada do 2º homem mais poderoso de Metrópolis. Porém, vasculhar o passado obscuro de Lex Luthor pode ser algo bastante perigoso.
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Entrada
Todo super-herói ou super-heroína que se preze possui uma extensa galeria de vilões. Todos prontos para destruir os bastiões da justiça com os mais diversos planos e propósitos, mas há aqueles que são elevados a outro patamar: arqui-inimigos. Seres tão intimamente ligados aos heróis que é impossível evocar um sem o outro. E não são poucas as obras que ajudaram a definir essas relações nos quadrinhos, mas Lex Luthor: Biografia Não Autorizada merece um destaque nesse hall.
Publicada originalmente em 1989, a HQ já foi publicada por aqui em três versões diferentes. A primeira em 1990, pela Editora Abril e a segunda vez em 2002 reeditada pela Editora Mythos e, por último, a versão em capa dura trazida pela Editora Panini. A edição da multinacional italiana traz como extras: a primeira aparição do vilão em Action Comics 23 e a sua reformulação pelas mãos do lendário John Byrne em Man of Steel 4.
A inclusão destas duas últimas histórias pela Panini para esta edição serve não só como registro histórico das mudanças no personagem, mas também para relembrar a influência de Byrne no roteiro de James D. Hudnall. Saindo após três anos do início da fase de Byrne frente ao Superman, o que vemos na HQ é o aprofundamento de seu conceito.
E para saber mais sobre o Superman de Byrne, recomendamos a entrevista que o roteirista deu ao canal SYFY WIRE sobre sua fase à frente do personagem e que você pode ver aqui.
Quem é Lex Luthor?
Filho dos anos oitenta, o roteiro de Hudnall traz uma visão mais realista e pessimista de toda a relação entre Superman e Lex Luthor. Uma na qual nem todos os poderes do homem de aço são capazes de fazer frente à perversidade que vive nos becos e frestas da cidade.
Com um roteiro não linear, a HQ começa com um whodunnit ou “quem matou”, nos retirando assim do gênero de super-herói e nos colocando em uma história policial. Eventualmente, Hudnall segue o padrão de regras do estilo e cria uma narração dupla na qual vemos a recriação do crime, suas etapas e também seu objetivo. Gerando assim um jogo de dúvida e certeza no qual todas as pistas estão lá para que os leitores mais atentos participem.
Utilizando este recurso para contar a vida pregressa de Lex Luthor, o roteirista escala Peter Sands, um decadente jornalista investigativo e em apuros financeiros, para ser o co-protagonista da HQ.
Entrando por acaso nesta empreitada, o jornalista começa a sua investigação a partir dos registros oficiais, tais como uma biografia com imensos furos. Principalmente quanto à família e a infância do bilionário. E é na tentativa de preenchê-los que Sands vai atrás de antigos conhecidos que possam iluminar as brechas da narrativa oficial.
A apuração dos fatos revela um passado sombrio e uma pilha de ossos quebrados por onde o magnata empresarial passa. Começando pelos estranhos acidentes com seus perseguidores na escola, passando pela misteriosa morte de seus pais e origem de sua fortuna, chegando a seus escusos negócios com a máfia e um antigo caso amoroso.
Lex Luthor: Biografia não autorizada – o anti-Superman
Todo o desenvolvimento da HQ é para formar um panorama de quem é Lex Luthor e toda a monstruosidade de sua psique. Um homem egoísta, cruel e totalmente sem empatia por aqueles que o cercam. E é este o trunfo da HQ. Em Lex tudo é o oposto do que o Superman representa. Sua história, seus valores, suas ações e ideais são destrinchados por Hudnall de forma a criar um perfeito reflexo distorcido do herói.
Esta dicotomia se estende para o alter ego do azulão e vemos como Hudnall explora os limites de se ter uma identidade secreta. Em um mundo onde a corrupção e o dinheiro falam mais alto, o Superman até pode ser intocável, mas Clark Kent é apenas mais um alvo.
Cooptado por Peter Sands, por seu contato com o Superman, o jornalista do Planeta Diário acaba se vendo no meio de uma investigação de assassinato na qual ele é o principal suspeito. E uma das reviravoltas da HQ é sabermos que foi o próprio Superman quem descobriu o corpo da vítima. Mas por que o herói, ou melhor, seu alter ego se entregaria à polícia?
A ideia de se colocar sob o jugo da lei é mais um recurso da trama para demonstrar a rivalidade entre Lex e Superman. Criando assim, mais uma camada de separação entre os dois, uma que os coloca diametralmente opostos no que acreditam.
A arte de Lex Luthor: Biografia não autorizada
Se o roteiro de Hudnall é coeso, o trabalho da dupla Eduardo Barreto (desenhos) e Adam Kubert (cores) é sóbrio. Seguindo uma linha mais clássica da época e sem grandes malabarismos, a arte de Barreto traz uma Metrópolis mais suja e bem diferente daquela que vemos, por exemplo, em Superman & Batman: os melhores do mundo ou em outras representações da cidade.
Neste aspecto, tanto a arte quanto as cores ajudam na composição mais ao chão do que aos céus da HQ. Ao mesmo tempo, o uso do claro e escuro, assim como alguns enquadramentos, reforçam o tom policial da narrativa.
Conclusão
Publicada em 1989, Lex Luthor: Biografia Não Autorizada se apropria dos conceitos concebidos por John Byrne para gerar uma história não usual de origem do vilão. E que de quebra explora como poucas a dicotomia existente entre Lex e Superman. Onde o primeiro simboliza o ego e o segundo a abnegação, escancarando os motivos de Lex ser o verdadeiro arqui-inimigo do azulão e não Zod, Mongul, Brainiac, Apocalipse e tantos outros.
Porém, mesmo que Lex já tenha sido revisitado por diferentes roteiristas, Hudnall e sua HQ fazem por merecer um lugar de relevância na mitologia do Homem de aço.
Nota: 5