Ficha Técnica
Noites de trevas: Metal 3
Autores: Scott Snyder (roteiro), Greg Capullo (arte), Jonathan Glapion (arte-finalista) e Francisco Plascencia – ‘Fco’ (cores) / Dan Abnett (roteiro), Philip Tan, Tyler Kirkham (arte) e Dean White, Arif Prianto (cores) / Peter Tomasi (roteiro), Francis Manapul (arte e cores) / Frank Tieri (argumento), James Tynion IV (roteiro), Antonio Salvador Daniel – ‘Tony S. Daniel’ (arte), Danny Miki (arte-final) e Tomeu Morey (cores).
Preço: R$ 20,90
Editora: DC Comics / Panini.
Publicação: Agosto/2018.
Número de páginas: 108 páginas.
Formato: Americano (17 x 26 cm) Colorido/Lombada quadrada. Capa cartonada.
Gênero: Super-heróis
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Sinopse: Com o Batman preso no Multiverso das Trevas, cabe ao restante dos heróis da Terra a missão de lutar contra Barbatos e seus cavaleiros das trevas. A medida em que as principais cidades do UDC vão caindo, os planos do deus sombrio vão se tornando cada vez mais claros.
Prato Principal
Enfim chegamos ao terceiro ato da saga e meus queridos compatriotas as notícias não são das melhores. O show de rock de Snyder e Capullo degringolou em uma cacofonia. Metendo o pé ainda mais forte no acelerador, Noites de trevas: Metal 3 é um amontoado de eventos e personagens se digladiando por espaço em cena.
Tendo que lidar com vários elementos, a profusão de acontecimentos neste terceiro volume acaba tirando o brilho do enredo proposto por Snyder e companhia e me fez ligar o alerta amarelo. O que temos é o capítulo mais fraco da saga até então e o mesmo se reflete nas origens dos cavaleiros das trevas. Insossas, essas origens não trazem muitos elementos para se analisar, diferente das outras três primeiras.
Repetindo o formato das críticas dos vol. 1 e do vol.2, irei analisar as histórias de forma individual para que possamos acompanhar o que se passa neste terceiro ato de Metal. As histórias que iremos analisar são:
- Noites de trevas: metal #3;
- Batman – O Afogado em Os versos do antigo marinheiro;
- Batman – O Impiedoso em Filho da Ira;
- Batman – O Devastador em Sinfonia de destruição.
Então puxe uma cadeira, coloque o cinto, pois o show está como o Rodrigo Barba, naquele show que o Los Hermanos abriu para o Radiohead: tentando encontrar o tom certo novamente.
Noites de trevas: Metal 3
Após acompanharmos Batman, nos dois primeiros volumes, e sua jornada para impedir a invasão de Bárbatos, aqui vemos como o restante dos principais heróis do universo DC
Após os dois primeiros volumes estarem centrados na figura do Batman, em Noites de trevas 3 vemos como o restante dos principais heróis do UDC lidam com a invasão de Bárbaros e sua horda de pesadelos.
Inicialmente, somos apresentados a uma realidade pós-Barbatos. Derrotado o vilão, a trindade tem um raro momento de tranquilidade. Acompanhando este momento, Jon e Damian (filhos do Superman e do Batman respectivamente) tocam o tema original da série de TV do Batman. E anote aí, já que os acordes da música serão importantes para a história.
Contudo, tudo não passava de um pesadelo e o que vemos a seguir é uma sucessão de derrotas. Batman, Superman e Mulher Maravilha viveram e morreram incontáveis vezes nas mãos do vilão. Em um eterno retorno de dor e sofrimento para o prazer de Bárbatos.
Todavia, o caminho que leva às trevas é tortuoso e após essa introdução, o que ocorre é uma sucessão de acontecimentos como um riff de guitarra em show de punk rock – e não dos melhores.
Os problemas de Noites de Trevas 3
Como resultado, nesta terceira parte contamos os seguintes eventos:
- Resgate do Superman das mãos dos Cavaleiros das Trevas;
- Reunião dos heróis sobreviventes em uma espécie de sala de guerra;
- Divisão do grupo em quatro equipes;
- Ataque dos Cavaleiros das Trevas aos heróis;
- Tentativa de resgate do Batman.
E tudo isso em 24 páginas. Percebem agora quando digo que esse show está à beira de uma cacofonia?
O problema, às vezes, não é nem a quantidade de eventos, mas a falta de um direcionamento. A sucessão de personagens, falas, planos e eventos não passa a sensação de urgência e perigo dos acontecimentos e acaba tornando a leitura inchada de elementos. Falhando assim em conduzir o olhar do leitor.
Mas mesmo com toda essa correria, alguns elementos visuais chamam à atenção nesta primeira história de Noites de Trevas: Metal 3, assim como pequenos detalhes na trama.
As torres onde tanto heróis, vilões e civis estão sendo presos remetem àquelas torres de alimentação do filme Matrix e durante a reunião dos heróis ficamos sabendo que elas são similares a torre cósmica da Crise na Infinitas Terras. Ao serem ativadas terminaram o processo que trouxe Bárbatos e afundará a Terra 1 no universo sombrio. Além disso, a citação da origem clássica da Mulher Maravilha por parte de Kendra fica como easter-egg para os leitores mais atentos ou antigos. Falando em Bárbatos, o visual adotado para o vilão não podia ser mais heavy metal.
Heróis ao Resgate ou o levante em Noites de Trevas 3
Ainda durante a reunião, descobrimos que Aço, Homem Borracha e Sr. Destino possuem elementos do metal enésimo, assim como as armas do Exterminador são feitas de promécio. O que os torna peças fundamentais para os heróis em sua busca por mais metal enésimo. Que como descobrimos em Batman: Metal Especial vol. 1 ser o único elemento capaz de ferir os seres do universo sombrio.
Quanto aos heróis, após o ataque dos Cavaleiros das trevas, eles se dividem em duas frentes e se dirigem para diferentes partes da Terra e do próprio Multiverso. Abaixo de Atlântida, para o centro do império Thanagar, a pedra da Eternidade e ao próprio coração das trevas.
Destes destinos, o mais importante é para o qual se dirige o Superman. Com a ajuda do Flash e do Aço, o kryptoniano decide ir ao Multiverso das Trevas para tentar resgatar o Batman. E lembram quando disse para anotarem os acordes da música lá do começo? Bem, ficamos sabendo que a Trindade possui um S.O.S próprio baseado em seus nomes. E os acordes da série clássica, são utilizados pelo Batman para enviar uma mensagem ao Azulão.
Contudo, sob a influência de Bárbatos, tudo aquilo que antes era conhecido aos nossos heróis está distorcido e o Superman está prestes a descobrir que todos os caminhos levam as trevas.
Batman – O Afogado em Os versos do antigo marinheiro
Abrindo as origens de Noites de Trevas: Metal 3, temos a origem do Afogado. Este quarto cavaleiro das trevas é a junção do Batman com o Aquaman. Entretanto, esta versão do Batman é feminina e se chama Bryce Wayne. Apesar de não encontrarmos explicações, podemos supor que a origem desta Batwoman também é diferente da do nosso Batman. Não é a perda dos pais, mas sim a perda de Sylvester, seu grande amor, o ponto de virada em sua história.
Ainda no campo das suposições, podemos conjecturar que neste mundo, a Batwoman e seu amado travavam uma batalha incessante com os meta humanos, que eram vistos como ameaças. Agora quem eram esses metas, por que eles eram vistos como ameaças são perguntas sem respostas.
O silêncio das profundezas
Esta falta de um contexto maior, que apresente a personagem, acaba fazendo com que caiamos de paraquedas neste universo. O que sabemos é que após exterminar todos os metas, Bryce se vê frente a uma nova ameaça: o surgimento dos atlantes liderados pela Aquawoman. Este acontecimento leva a uma nova guerra, desta vez, entre os habitantes da superfície e os intramarinos. Após assassinar a Aquawoman, Bryce vê Gotham ser arrasada por um tsunami e decide levar a guerra para outro nível. Modificando seu corpo, através de cirurgias, para desenvolver habilidades e poderes, ela leva o campo de batalha para os mares.
Diferentemente das histórias de origem, onde os medos do Batman eram mais perceptíveis em suas versões malignas, a construção do roteiro torna Bryce uma figura mais misteriosa. Seria o medo de Bruce em relação aos metas e seus poderes? Ou Bryce seria a representação da incompatibilidade de Bruce em confiar e conviver com o diferente? Todas essas perguntas fazem com que a história se torne uma caixa de conjecturas.
Um ponto alto na trama é a sua arte. A visão da Afogada é algo aterrorizante e a cena de transformação de Mera é de um horror ímpar, trabalho do desenhista Philip Tan.
Batman – O Impiedoso em Filho da Ira
Talvez a mais inconsistente das origens dos cavaleiros das trevas. Lendo a trama ficamos com a seguinte impressão: “Ok. Temos um Batman numa armadura. Ele é mau, monstruoso e o design ficou ótimo. O que fazemos com isso?”
A resposta para isso foi um Batman corrompido pelo elmo de Ares e alçado a deus da guerra. Consequentemente liberto de todos os seus códigos e juramentos, transformando assim a sua cruzada em uma matança desenfreada onde só mais forte pode sobreviver.
Na Terra-12 do Multiverso sombrio, Batman e a Mulher Maravilha lutaram lado a lado, liderando heróis e deuses, na batalha derradeira contra Ares – o deus da guerra. Mas no fim, após a morte de Diana, resta a Bruce tomar para si o elmo de Ares e assim derrotá-lo.
Visual maneiro, ideias de menos
Eventualmente, aqui não há espaço para maiores reflexões quanto a qual medo de Bruce, o Impiedoso representa. Sendo muito mais uma resposta a um fator externo do que interno. Não que a morte de Diana não seja chocante e dolorosa para Bruce, e que seu desejo de vingança não seja real, mas é que o restante de suas ações e suas motivações não possuem profundidade. E mesmo que o capacete de Ares e sua influência seja tremenda, ela não dá credibilidade ao roteiro.
O interessante da trama é que os personagens coadjuvante (Steve Trevor, Amanda Waller, General Lane, Bones, Coronel Marie Jonas e Eita Candy), são mais bem construídos e revelam mais camadas que o próprio Impiedoso. E digo isso, pois as incoerências do personagem principal, fazem com que ele se torne raso e unilateral.
Sem contar que a reviravolta no final da HQ, pede que o leitor suspenda todo e qualquer senso de descrença. A sensação que se fica ao final da leitura é a de descaso com os personagens e suas habilidades.
Entretanto nem tudo são lágrimas na trama e destaco a arte de Francis Manapul, assim como alguns easter-eggs:
- a cena clássica de Crises nas Infinitas Terras mais uma vez sendo revivida;
- a aparição da HQ Multiverso do Grant Morrison em uma sacada sensacional.
Batman – O Devastador em Sinfonia de destruição
Com um título desses o que se pode esperar? Porradaria é claro, mas uma porradaria cheia de reflexões, afinal de contas estamos falando do Batman. E não é porque ele se infectou com o vírus do Apocalypse que ele vai deixar de ser alguém melancólico.
Chegando ao final deste terceiro volume, Frank Tieri e Tony Daniel, nos apresentam uma história onde um Superman enlouquecido se volta contra a humanidade e seus amigos da Liga. E resta ao Batman se opor ao seu antigo amigo e aliado.
Cheio de referências a Batman vs Superman – A origem da Justiça, a trama coloca mais uma vez em campos opostos os dois principais bastiões da editora DC. Mas surpreendentemente, a trama ganha outros contornos. Em meio a luta, o que temos é uma confissão da admiração de Bruce pelo Superman e por tudo o que ele representa. Somado a isto e desolação e perplexidade do Batman que tornam este momento emocionante. E é isto que faz com que essa origem seja a melhor das três deste Noite de Trevas: Metal 3.
Aliás, é este sentimento de desesperança que o vírus Apocalypse intensifica e torna este cavaleiro das trevas tão perigoso. Não é somente a sua força física, o que o torna tão devastador, mas a sua visão de mundo. E nela, todos devem se endurecer como ele para verem o Superman como ele realmente é: um engodo.
E é este o plano de Bárbatos ao qual somos revelados ao final da HQ. Usar a presença do Superman como um estandarte do medo, pois se ele caiu quem poderá se opor ao deus sombrio?
Conclusão
Tropeçando e com passos vacilantes, Noites de Trevas: Metal 3 chega sofrendo ao seu final. Como uma banda que precisa improvisar com muitos elementos e quer quer construir algo grandioso, mas sem ter as qualidades técnicas necessárias para tal empreitada.
O brilhantismo que vimos nos volumes anteriores ainda está lá. Existem boas ideias e há material para uma boa saga do Batman, mas a execução deixou a desejar. Cabendo a nós esperarmos pela quarta parte deste run de heavy metal da dupla Snyder e Capullo.