Ficha Técnica
Noites de Trevas: Metal 4
Autores:
Scott Snyder (roteiro), Joshua Williamson (roteiro), James Tynion IV (roteiro), Doug Mahnke (desenho), Yanick Paquette (desenho e arte-final), Jorge Jimenez (desenho e arte-final), Jaime Mendoza (arte-final), Wilfredo Will Quintana (cores), Natha Fairbairn (cores) e Alejandro Sancher (cores) / James Tynion IV (roteiro), Riley Rossmo (arte), Ivan Plascencia (cores) / Scott Snyder (roteiro), Greg Capullo (arte), Jonathan Glapion (arte-final), Francisco Plascencia – “FCO” (cores) / Jeff Lemire (roteiro), Bryan Hitch (arte), Kevin Nowlan (arte-final), Alex Sinclair (cores) e Jeremiah Skipper (cores)
Preço: R$ 20,90
Editora: DC Comics / Panini.
Publicação: Setembro/2018.
Número de páginas: 116 páginas.
Formato: Americano (17 x 26 cm) Colorido/Lombada quadrada. Capa cartonada.
Gênero: Super-heróis
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Sinopse: Com o Batman e o Superman presos no Multiverso sombrio, cabe aos outros heróis buscarem encontrar todo o metal enésimo do planeta. Sem ele, a chance de vitória é nula e nossos heróis correm contra o tempo. E emergindo das sombras, chegou a hora de descobrirmos a origem do Batman que Ri! E saiba o fim do Gavião Negro.
Entrada
E cá estamos em Noites de Trevas: Metal 4, o penúltimo capítulo da saga Metal. Arquitetada por Scott Snyder e Greg Capullo, esta saga de nicho teve lá seus altos e baixos, mas definitivamente este capítulo é algo para se tirar o chapéu e é um excelente exemplo de como menos pode ser mais.
Após a cacofonia do terceiro ato e de um segundo especial não muito criativo, o show de Metal volta seus holofotes para aqueles que são os protagonistas da saga: Batman, Gavião Negro e para o avatar das sombras, o Batman que Ri. E com isso, consegue entregar uma tour de force sobre o poder das histórias e como símbolos podem moldar o mundo e o destino de todo o Multiverso.
E caso este papo esteja te lembrando um certo personagem, saiba que você não está enganado. Este quarto capítulo marca também o retorno do nosso querido Sandman a saga, amarrando assim a participação do Perpétuo na história e reforçando ainda mais as intenções do roteiro de Snyder.
Como de costume, iremos dividir a análise deste volume e antecipadamente peço desculpas se a coisa ficar muito filosófica. Então preparem-se para um mergulho nas trevas.
Batman: Perdido
Abrindo Noites de Trevas: Metal 4, temos uma história dedicada ao Batman e que se inicia com uma quebra da quarta parede digna dos trabalhos do Grant Morrison. E não é só aqui que o autor escocês é referenciado. Na verdade, todo esse primeiro arco é uma grande homenagem a fase de Morrison no Morcegão. Seus conceitos são retrabalhados e unidos aos de Snyder para recontar a simbologia do Batman. E para essa empreitada, nada melhor do que o próprio Bruce Wayne para narrar a sua história.
Aposentado e em uma mansão repleta de crianças, Bruce torna-se o guardião de suas memórias. Sentado em uma biblioteca abarrotada com os seus inúmeros casos, o antigo protetor de Gotham agora desfruta de uma alegre velhice entre os seus. Um vovô que agora narra suas aventuras para entreter seus netos. E aqui, ele conta, para uma intrépida garotinha chamada Janet, O Caso da Sociedade Química – seu primeiro caso.
Batman, um símbolo
Toda essa metalinguagem do início serve para nos lembrar de duas coisas. A primeira é a de que durante todas essas décadas de aventuras o Batman já encarnou várias e várias facetas, em muito contraditórias, mas todas reais. E isso acontece pois, a muito tempo que ele não é apenas um personagem de quadrinhos, mas um símbolo. E este é o segundo ponto que devemos lembrar ao lermos essa primeira história: o Batman é um símbolo e a saga Metal é uma batalha pelo o que ele representa.
Iniciada na alvorada da humanidade, esta guerra foi conduzida por Barbatos e seus asseclas ao longo dos séculos procurando moldar Bruce Wayne no herói que todos conhecemos. O objetivo é transformar o Batman no veículo perfeito para afundar todo o Multiverso nas trevas. E para isso, ele, precisava que Bruce se tornasse o símbolo de esperança que todos conhecemos para depois corrompe-lo.
E é este o elemento disruptivo notado tanto por Batman quanto por nós leitores. Sempre vimos o Homem-Morcego como alguém capaz de superar os piores momentos e solucionar os casos mais improváveis usando aquilo que há de melhor no espírito humano. Mas surpreendentemente, a verdade que Barbatos nos revela é que toda essa visão que temos sobre o Batman é falsa. Toda sua narrativa, seus feitos e seus atos não passam de simulacros, cópias de elementos que sequer existiram. Sem a mão do Deus Sombrio, o Batman não seria nada e hoje ele é apenas um catalisador das forças do Multiverso sombrio.
Batman – um herói trágico
O que mais chama atenção em todo esse embate é como Snyder vai costurando elementos lançados em Noites de Trevas: Metal 1. Se lá encontramos ecos das antigas tragédias gregas, aqui eles são cristalizados em uma única cena. Confrontando Barbatos, Batman ultrapassa os seus limites e o enxerga em toda a sua glória e onipotência. Desta forma, ao ver o deus do Multiverso das trevas frente a frente, ele se depara com a terrível verdade na qual o Batman não é nada.
E como diría Eurípedes: “Aquele a quem os deuses querem destruir, primeiro deixam-no louco”. E é exatamente isso o que Barbatos faz. Enlouquecido e alquebrado, vemos o Cavaleiro das Trevas e afundar de vez na desesperança e no pesadelo criado por Barbatos.
O Batman que ri
Enfim chegamos ao momento mais escuro da saga Metal. Desta vez temos a origem daquele que é o avatar e o general de Barbatos, o Batman que Ri. Junção de duas forças primordiais e antagônicas, o que temos é o Batman e o Coringa reunidos em um só corpo. E a responsabilidade de contar essa história ficou a cargo de James Tynion IV, Riley Rossmo e Ivan Plascencia.
Se na história anterior, vimos um confronto de contornos divinos quanto a posse do símbolo do morcego, neste segundo capítulo de Noites de Trevas: Metal 4 este mesmo combate já foi definido. Seu resultado foi o surgimento de um Batman que é uma total deturpação de tudo o que o Batman representa.
A última piada mortal
Em sua cartada final, o Coringa arma um plano para dar a Gotham e ao seu protetor, um belo de um dia ruim. E para quem sacou a referência, ela não foi de graça. Com um início que referencia a Piada Mortal, o Batman que Ri é uma resposta direta a clássica HQ de Alan Moore e Brian Bolland. Digo isto, pois ela, acaba com a polêmica se Batman quebrou ou não quebrou o pescoço do Coringa com uma cena bem explicita.
Após destruir dezenas de locais em Gotham, matar antigos aliados e vilões, o Coringa mantém o Batman cativo. E mantendo-o cativo, passa a assassinar dezenas de pais na frente de filhos indefesos, que são transformados pelo gás do riso. Tudo isso, leva o herói a ultrapassar os seus limites morais, executando o Coringa ao quebrar o seu pescoço. O que por sua vez, libera uma nanotoxina que o infecta, cuja finalidade é reprogramar a sua mente para que ela se pareça com a do Coringa.
O mais interessante desta segunda HQ é que ela mantém o tom de Batman: Perdido e permanecemos no campo simbólico. Este campo simbólico é retratado tanto pelo uso das cartas do baralho, quanto pelo discurso utilizado pelo Batman que Ri durante o seu relato. Para ele, o Coringa sabia que os dois estavam incompletos e que somente juntos eles poderiam descobrir a piada final. Outro ponto em comum com a primeira história é que também é iniciada com uma quebra da quarta parede (Grant Morrison manda lembranças).
Batman que Ri – o vilão definitivo?
Ver o Batman se tornar este sombrio amálgama é terrível e serve de lembrete. Sem o seu código moral o Batman seria algo aterrador. Algo tão atroz, quanto a cena de sua transformação ou ao vê-lo segurando uma arma, do mesmo modelo que matou seus pais, sentado em um trono de corpos.
O Batman que Ri é a antítese mor de tudo aquilo que o Cruzado Encapuzado representou em suas oito décadas de existência. Uma força destrutiva que possui como objetivo afogar todos no caos e no niilismo, um símbolo da verdadeira desesperança. Que é exatamente o que ele faz logo após sucumbir a nanotoxina e atacar a Liga da Justiça. Tornando-se assim o verdadeiro contraponto ao Batman a ponto de alguns já começarem a questionarem a posição do Coringa como o maior vilão de sua galeria.
E é por ser esse contraste ao Batman do Multiverso que ele torna-se a arma perfeita para liderar as tropas de Barbatos. E quem diz isso, é o próprio a um misterioso prisioneiro ao qual ele tortura no final da história. Além disso, vemos um vislumbre dos horrores que espreitam no Multiverso das Trevas, que aguardam o seu chamado a guerra.
Noites de trevas: 4
Após duas histórias densas e altamente simbólicas, Snyder retorna para contar o terceiro capítulo de Noites de Trevas: Metal 4. E o que temos é o retorno do tom aventuresco para a saga. Mas apesar disso, todo o discurso em torno da simbologia do Batman ainda permanece presente.
Aqui, é o próprio Sandman que toma o papel de narrador e guia da jornada dos heróis. E ele começa tudo com uma história.
“Era uma vez, uma biblioteca cheia de histórias que nunca seriam contadas”
Após uma breve recapitulação feita pelo Lorde Moldador, vemos o Batman ser transferido da torre condutora por diferentes versões do Superman. Estas versões do Azulão incluem:
- Uma fusão com o Lex Luthor, indicando que o Superman tenha matado seu arqui-inimigo;
- Uma versão na qual ele assassina o Batman e passa a ocupar o seu lugar;
- E o Superman elétrico da década de 90.
Outra referência interessante nessa parte é o golpe mortal dos cinco dedos alá Batman, uma manopla com cinco versões diferentes de kryptonita, da dourada à violeta.
Está transferência, logo torna-se uma missão de resgate. Pois estamos falando do Batman e mesmo alquebrado ele permanece sendo alguém compromissado com a missão de salvar o Multiverso. E para isso, ele precisa libertar o Superman e fugir de seus algozes, o que ele faz com a ajuda de Sandman que os teleporta para o Sonhar.
Sobre a fuga, a frase usada pelo Batman para invocar Sandman é tanto um eco de um diálogo ocorrido entre os dois lá em Noites de Trevas: Metal 2 quanto a música do cantor Jerry Cantrell, vocalista do Alice in Chains.
Sandman e as Noites de Trevas
O encontro dos três no Sonhar é uma suspensão do caráter aventuresco desta terceira parte de Noites de Trevas: Metal 4. Recusando adentrar a batalha pelo Multiverso, Sandman oferece uma história aos nossos heróis. Uma história de criação, de deslumbramento e queda. Aqui vemos o surgimento do Monitor e do Anti-Monitor, assim como de um terceiro ser responsável por vigiar tudo aquilo que viria a ser.
Este ser residia na Forja dos Mundos e por éons criou incontáveis universos a partir da esperança e dos medos dos seres vivos. Alguns destes universos ascendiam e outros eram consumidos por um quarto ser: o dragão, o destruidor de mundos, Barbatos. E ao invejar o seu mestre, Barbatos tomou seu lugar na Forja e desde então o Multiverso Sombrio tomou forma. E crescendo, foi abrigando universos fadados a morte e com isso a forja foi tornando-se cada vez mais obscura.
O plano de Sandman, é enviar os nossos heróis a Forja dos Mundos e reacende-la. Desta forma, Batman e Superman não só salvariam o Multiverso, como também encontrariam um metal muito mais poderoso que o metal enésimo.
Um ponto bem curioso nessa parte da história é a declaração do Sandman ao Batman. Aqui, Snyder amarra a participação do Perpétuo, ao nos lembrar de um detalhe do cânone da DC. A atual encarnação de Sandman é Daniel Hall, neto de Carter Hall, o Gavião Negro. O que torna a sua participação na saga muito mais pessoal.
Outro ponto interessante, é o diálogo emocionante entre o Superman e o Batman, algo que só poderia ocorrer entre dois amigos. Para o Azulão, o Batman é algo que dá esperança as pessoas, revivendo assim o aspecto simbólico do personagem.
A busca pelo metal enésimo
Mas esta história não é focada somente no trio. Também há espaço para as missões em busca do metal enésimo. As três equipes, lideradas por Mulher-Maravilha, Aquaman e Lanterna-Verde chegam aos seus respectivos destinos: a Pedra da Eternidade, as tumbas de Atlântida e a Thanagar Primordial.
Nas tumbas, Aquaman e o Exterminador desvendam que o túmulo do primeiro rei de Atlântida é na verdade um portal. Já em Thanagar Primordial, o Lanterna Verde, o Ovo-Borracha e o Senhor Incrível descobrem a origem do metal enésimo. Recepcionados por Onimar Synn, tirano que consumiu o metal enésimo, os heróis descobrem uma nova ameaça: o canhão Fênix. Uma arma criada pelo império thanagariano eternamente apontada para o nosso planeta com o objetivo de impedir a ascensão de Barbatos. Mas, mancomunado com Starro, O Conquistador, Synn pretende utilizar a arma para outros fins sombrios.
O plano dos Imortais
Na Pedra da Eternidade, Mulher Maravilha, Senhor Destino e Kendra Saunders enfrentam a resistência dos guardiões ancestrais, corrompidos pelo desequilíbrio que assola o Multiverso. Após esta recepção, Kendra informa aos dois que a maça do Gavião Negro está dentro da rocha e que possivelmente é a fonte do metal enésimo que estão a procura.
Enquanto procuram pela maça, a Mulher Maravilha e o Senhor Destino encontram Kendra segundos antes de lançar o cérebro do Anti-Monitor na Pedra da Eternidade. Incumbida pelos Imortais, Kendra deveria destruir a Pedra usando a energia da antimatéria e assim eliminar o Multiverso das Trevas. Mas os planos não saem como o esperado. Em uma reviravolta Kendra é transformada em Lady Falcão Negro e o Adão Negro surge e ataca os nosso heróis.
Retornando aos melhores do mundo, vemos que os heróis conseguiram adentrar a Forja dos Mundos e lá, mais uma vez, descobrem que todos os caminhos levam as trevas. Acima da forja, um novo dragão surge e ele é Carter Hall.
Gavião Negro: Encontrado
Em uma breve história cheia de paralelos com Batman: Perdido, descobrimos o que aconteceu a Carter Hall após ele partir rumo ao coração do Multiverso das Trevas. E aqui, ele também luta para subir e alcançar os céus.
Preso na Forja dos Mundos, Hall luta para ascender e chegar a uma nave que paira sobre o local. E desta forma recuperar a sua identidade e escapar do limbo no qual se encontra. Mas ele não está só, várias de suas encarnações padecem do mesmo destino. Presos e acuados, todos aguardam os Gaviões Humano, estranhas figuras aladas que os atacam periodicamente. E assim como com Batman, Barbatos também faz de tudo para que Carter não alce voo. O que por sua vez, nos serve como um aviso do que está por vir, pois essa história não é um conto de redenção, mas de uma longa queda.
Bebendo no conto de Ícaro, Jeff Lemire nos traz um pesadelo de alguém que procura se reencontrar. Pois somente assim, Carter poderá se libertar das trevas e do desespero que é Barbatos. E tudo isso para nos mostrar que um símbolo corrompido é algo monstruoso, capaz de engolir universos inteiros.
Conclusão
Noites de Trevas: Metal 4 é um excelente capítulo, se não o melhor, desta saga de nicho. Com uma forte carga simbólica, o roteiro de Snyder resgata conceitos do run de Morrison para entregar uma história sobre a importância do Batman para o Universo DC e seus leitores. Além de amarrar algumas pontas soltas, como a participação de Sandman na saga, enquanto prepara o arco final desta batalha quanto ao símbolo do Morcego
Nota: 4 de 5.
Respostas de 2
Olá amigo, tudo certo ?
cara, tempos atras comprei a saga Metal, e desde então, estou lendo uma por semana na hora do almoço, e descobri seu site e todas vez que acabo de ler uma revista, venho e leio sua explicação, que pra mim, completa a leitura.
Muito obrigado, sou um colecionador tb de quadrinhos, já fazem umas 3 décadas, mas não tenho muita coisa hehehehe.
Valeu demais irmão.
Forte abraço
Cara, obrigado pelo comentário. Fez o meu dia.
Espero que as leituras por aqui sejam tão prazerosas quanto as leituras das HQs. E o que você tá achando da saga Metal?