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Críticas de segunda e Opiniões de quinta sobre Quadrinhos

Por Thiago de Oliveira

O caso do churrasco na laje

O caso do churrasco na laje

Um terrir à brasileira onde aventura, comédia e muito samba no pé se unem numa HQ com aquele sabor.

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Ficha técnica

O caso do churrasco na laje capa
Capa de: Fred Hildebrand

O caso do churrasco na laje
Autores: Pacha Urbano (roteiro) e Fred Hildebrand (arte)
Preço: R$ 25,00
Editora: Independente
Publicação: Maio de 2024
Número de páginas: 40
Formato: 14,8 x 21 cm / Preto e branco / Capa
Gênero: Comédia

Sinopse: É dia de festa na casa da Dona Irene. A tão aguardada laje finalmente foi concluída e para comemorar nada melhor do que aquele churrasco. Mas nem tudo é fácil quando se tem uma entidade furiosa no quartinho dos fundos.

***

Em 2024, que é quando escrevo este texto, está havendo um debate sobre o alcance e a introjeção dos quadrinhos brasileiros junto ao público. No meio desse siricutico, o crítico e jornalista Érico Assis disse,: “o leitor brasileiro está aquém do quadrinho brasileiro, infelizmente.”. Acredito que nunca concordei tanto com uma frase ao mesmo tempo em que fiquei triste por esta realidade. Contudo, enquanto bibliotecário, não acredito na existência de pessoas que não leem. O que falta é aquela pessoa encontrar o quadrinho ou o livro certo e para isso é necessário que haja divulgação. Por isso, cá estou para falar de O caso do churrasco na laje.

O que se encontra nas 33 das 40 páginas do volume é pura brasilidade. A começar pelo título, passando pela sonoridade das falas dos personagens e chegando até mesmo na forma como os conflitos são resolvidos. Isso sem falar que há comédia e aventura dialogando com o nosso passado e com o nosso presente. Algo, que já adianto, se mostra como um grande acerto e que espero poder ver mais; já ficando a minha torcida para novas histórias dentro do universo da Sociedade de Investigações do Oculto

Certamente, vocês já devem ter sentido a minha empolgação, mas ela não é infundada e calma que irei explicar os motivos para isso logo abaixo. Porém, muito desse sentimento vem de como a história é um daqueles quadrinhos com quê maiúsculo. Além de estar vendo o possível nascimento de uma daquelas duplas de mãos cheias da nona arte.

Uma história autocontida

Arte de: Fred Hildebrand

A história criada por Pacha Urbano brilha por ser contida. Confinado em uma festa, a história avança naquele ambiente, eventualmente entregando informações maiores acerca deste ou daquele personagem criando a sensação de que estamos diante de algo maior. 

A dinâmica entre Bernardo e Glória (a dupla de investigadores da A Sociedade) é um exemplo disso. Claramente, este não é o primeiro caso que os dois atuam juntos e todas as piadinhas, tirações de sarro e a forma como agem demonstram isso e nos fazem pensar: no que mais esses dois já se meteram? Qual é a extensão dos poderes de Glória? O que mais Bernardo sabe sobre magia e onde ele conseguiu as suas tatuagens? 

Isso sem falar no passado do Sr. Firmino, que mesmo não aparecendo na história, intriga e muito. Afinal de contas, se ele pode esconder da família o que escondeu, no que mais ele estaria envolvido? 

Pontas soltas que cumprem a função de instigar, mas também de enriquecer o universo criado pelo roteirista. Entretanto, o que brilha no roteiro é o seu poder síntese e de direção, coisa de craque mesmo e que foi um ótimo tira gosto do péssimo Buzzkill.

Voltando a história, a contar pela playlist da HQ é possível dizer que ela se passa em algumas horas entre a chegada da dupla e a resolução do caso. Nesse meio tempo somos apresentados a pelo menos uma dúzia de personagens e todos eles têm o seu momento de brilhar, sem falar na caracterização de cada um deles. Mérito da arte cartunesca de Fred Hildebrand que cria personagens vibrantes e cheios de carisma. 

Conclusão

Contando a história de uma sociedade secreta atuante no Brasil e um pequeno grande segredo de família, O caso do churrasco na laje explora várias idiossincrasias do nosso país e da nossa sociedade. Está lá algumas das características de nosso Brasil profundo: a laje, a celebração da vida, a alegria, as famílias matriarcais e multigeracionais e a nossa forma de resolver conflitos através da malandragem. Que aqui deve ser entendida como uma ferramenta utilizada para resolver problemas através da criatividade e esperteza.

Citando Luiz Antônio Simas, a brasilidade é libertadora e é exatamente isso que vemos na HQ. Uma história nossa, com pessoas que você poderia encontrar numa esquina. Bastando a nós aqui do outro lado das páginas conhecer e se regozijar nessa brasilidade, pois é ela o que temos de melhor por aqui.

Torcendo para que a dupla de quadrinistas continue a expandir o universo da Sociedade de Investigação do Oculto e que Bernardo e Glória possam encontrar muitos e muitos leitores por aí. Axé!

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