E cá estamos de volta outra vez. Mais um ano se passou e é chegada a hora de fazer o balanço das leituras. Porém, já me adianto, que 2024 foi estranho e mesmo tendo ocorrido o FIQ, a pilha de leitura não alcançou os mesmos níveis dos anos anteriores.
Muito dessa diminuição se deve ao aumento dos preços dos quadrinhos. Como mostrado pelo jornalista Matheus dos Santos em matéria da Folha, as nossas queridas HQs somaram, entre 2020 e 2023, um aumento de 23%. Tanto que é possível dizer que a questão do preço do gibi ficou séria esse ano. Tivemos lives de editoras, quadrinistas e lojistas discutindo o tema e o que se viu é que o problema tem mais de uma causa. É o dólar, é o monopólio do papel, é a dependência da Amazon, é a falta de novos leitores, é o reflexo da economia. O buraco é fundo e a luz parece ficar cada vez mais lá em cima, distante…
Dentro deste turbilhão de emoções o bolso é quem sofre e como quadrinhos não são necessariamente itens de primeira necessidade, na hora que a coisa aperta, eles tendem a dançar. Isso ou ficamos mais criteriosos na hora de escolher este ou aquele título e por aqui foi o que acabou acontecendo. Foquei em avançar sobre as últimas publicações do Mago de Northampton em sua empreitada literária e aproveitei o FIQ para abastecer a coleção com alguns títulos nacionais, latino-americanos, europeus e um ou outro estadunidense que já estava de olho há algum tempo. Para além do evento, as compras foram praticamente nulas, salvo algumas Graphic MSP e a última edição do Murphyverse.
Como vocês podem perceber, as compras realmente não foram muitas no ano que passou. Mas, o importante é que seguimos, aos trancos e barrancos é verdade, com aquilo que realmente interessa: ler. Entre leituras e releituras cá estamos mais uma vez. Então vamos à lista!
10 – Cornos

Cornos foi o meu primeiro contato com o quadrinista Dieferson Trindade. HQ publicada de forma independente em 2016 e que ganhou uma nova edição pelo pessoal da Editora Hipotética em 2024. A HQ foi uma das que aproveitei o FIQ para poder pegar em mãos com o autor, o que me rendeu uma bonita dedicatória.
No Gibi, que é o primeiro de Dieferson, acompanhamos uma mulher, não nomeada, que sonha recorrentemente com um ser de chifres. A trama, por sinal, começa com um desses sonhos sendo narrado pela protagonista a um amigo. Um sonho no qual o ser de chifres fala: “Você sabe como seria tão bom desistir de tudo […] De tudo o que sonhou e não conseguiu conquistar em mais de vinte anos”. E que culmina com a materialização de um bilhete após um outro sonho no qual este mesmo ser onírico diz: “Desculpe, mas eu não consigo te alcançar facilmente, só você pode me colocar aí perto, para descansarmos juntos”.
Com o decorrer da HQ, descobrimos que este ser cornudo é na verdade a manifestação de todos os sonhos não realizados pela protagonista. É a condensação de todas as suas cobranças internas, da sua tristeza, da sua frustração em não ter conquistado tudo aquilo que uma jovem de 25 anos deveria ter: uma carreira, um amor, uma casa, enfim, ser feliz.
Cornos é uma HQ pesada e trata de um tema complicado, o suicídio, mas com bastante cuidado e entrega no roteiro. Contudo, é a ambientação da paisagem mental da personagem onde Dieferson brilha. As cenas emulando uma lente olho de peixe, os seres antropomórficos, a infinidade de peixes que enchem os quadros e as páginas. Tudo ali é construído de forma a refletir como a protagonista se sente, um espaço fantasioso onde os seus sentimentos e memórias ganham formas e buscam estabelecer um diálogo com ela.
Há muito de Taiyo Matsumoto (TEKKON KINKREET, Sunny), tanto no desenho quanto na forma de narrar, mas não se deixe enganar achando que é uma cópia. Dieferson chega já com voz própria e agora, é correr atrás do restante da sua bibliografia.
09 – Tintin au Brésil

Esta foi uma daquelas gratas surpresas online. Coisas que só o acaso de uma rede social, no caso o Bluesky, poderia proporcionar, pois mesmo já acompanhando o trabalho do Bruno Seelig não tinha visto esta homenagem ao personagem franco-belga e aos quadrinhos brasileiros. Porque, como o próprio título já entrega, é isso o que Tintin au Brésil é: um pequeno tributo a estes dois universos.
Com quatro páginas, disse que era pequeno, a HQ narra aquela que talvez seja a aventura definitiva de Tintim. E assim sendo, o que não falta são participações especiais tanto do lado brasileiro quanto do lado franco-belga. Para citar alguns temos os Piratas do Tietê da Laerte, Tina de Maurício de Souza, o Amigo da Onça de Péricles de Andrade Maranhão, Menino Maluquinho de Ziraldo, Ed Mort de Luis Fernando Verissimo. Mas tudo tão bem amarrado que rapidamente passamos a acreditar que o personagem de Hergé só poderia terminar a sua vida assim. Integrado à paisagem carioca, pai e torcedor do Vasco da Gama. Leia a HQ aqui.
08 – Todas as pedras no fundo do rio

Às vezes a falta de grana te faz chegar atrasado a determinadas obras e autores e mesmo acompanhando o trabalho do Wagner Willian em sites especializados, a primeira vez que consegui colocar as minhas mãos em um de seus trabalhos foi na edição de 2022 do FIQ. Naquele ano peguei o excelente O Martírio de Joana Dark Side e sabendo que o autor estaria na edição de 2024, aproveitei a oportunidade para pegar o “Todas as pedras no fundo do rio”.
Lendo o posfácio da HQ descubro que o projeto nasceu inicialmente sob a égide da série Cine qua non, onde o quadrinista adapta de forma livre filmes que estão em domínio público, e que o escolhido da vez tinha sido o A Felicidade Não se Compra (1946), de Frank Capra. Como O Martírio foi o primeiro número da série entendi que havia ali uma feliz coincidência e também uma continuidade, já que o terror da opressão estava presente em ambas as HQs.
“Todas as pedras no fundo do rio” é um quadrinho não só inquietante, mas também de fôlego, já que ao longo de suas 200 páginas acompanhamos diferentes épocas, personagens e tramas paralelas. Uma jornada que tem como fundo o país fictício Capris, na América do Sul, e tem como protagonistas Dimitri, filho de emigrantes russos que fugiram do comunismo, Lara, esposa e prima de Dimitri, e Daren, amigo de Dimitri.
Com esta estrutura Willian busca dar conta das fraturas passadas e presentes do nosso país, assim como discutir as principais revoluções sociais e políticas ocorridas no século XX. Porém, a HQ vai além e é como se estivéssemos diante de uma lente de aumento na qual passado e presente se misturam de forma febril e revelassem uma realidade ainda mais delirante, mas que também está a um passo de saltar das folhas.
07 – A saga da Liga da Justiça 12

2024 também foi o ano em que consegui completar a primeira série (ai ai, essas decisões editoriais da Panini) da saga da Liga da Justiça. E bem, a experiência não poderia ter sido mais prazerosa, pois além de reler algumas boas histórias, ainda fui surpreendido por tantas outras igualmente boas. Grant Morrison e Mark Waid subiram o sarrafo da super equipe com tramas repletas de conceitos abstratos, aventura e pancadaria.
O 12º volume da saga talvez seja aquele que melhor reúne estas características, já que conta com a excelente A escada para o céu e a clássica Torre de Babel, ambas de Waid. Na primeira, a Liga se vê diante de uma sociedade alienígena altamente desenvolvida tecnologicamente e que não possui crenças religiosas. Contudo, ao encararem a extinção, enviaram diversos agentes para entenderem as diferentes religiões existentes pelo cosmos e agora estão colhendo, literalmente, os planetas em sua gigantesca nave mãe para criarem um paraíso à sua imagem e semelhança. Já a segunda história, conta como os planos de contingência do Batman caem nas mãos de Ra’s al Ghul que os utiliza para vencer a Liga da Justiça em um plano de dominação mundial.
Se isso não é um dos exemplos do que melhor se pode produzir com personagens de collant eu não sei o que é.
06 – A balada de Halo Jones

É comum por aqui dar uma volta nas prateleiras das estantes para reencontrar este ou aquele título. Algo que, como deixei lá no começo do texto, ocorreu bastante por aqui no ano passado. Mas o reencontro com “A Balada de Halo Jones” se deu também por conta do falecimento do desenhista Ian Gibson em dezembro de 2023.
Publicada em três partes na revista britânica 2000 AD entre 1984 e 1986, a HQ é uma parceria de Ian Gibson (desenhos) e Alan Moore (roteiro) e que chegou no Brasil em um único volume pela Pandora Books (2003) e pela Mythos Editora (2015).
Se não me falha a memória, li a HQ pela primeira vez logo após o combo “V de Vingança-Watchmen”. Isso lá nos meus vinte e poucos anos e eu me lembro de só conseguir pensar: Como? Como que uma história sobre uma mulher proletária vivendo no século 50, sem poderes, sem grandes reviravoltas mirabolantes, poderia ser tão incrível. A resposta está justamente nesses aspectos. Sendo que o que Moore faz aqui é demonstrar como que a vida em sua banalidade é fantástica e única. Tanto que há um capítulo inteiro onde vemos um historiador no ano de 6427 dar uma aula na faculdade sobre ela, após dedicar a sua existência a estudar a vida de Halo a ponto de se apaixonar.
Aliás, acredito que o que me faz também voltar a HQ é saber que no fundo eu também seja apaixonado por Halo, suas idiossincrasias, e por poder acompanhá-la por um tempo em sua jornada.
05 – Meta – Dept. de crimes metalinguísticos vol. 2: A jornada do leitor

Como vocês vão poder reparar mais para frente, houve uma dobradinha esse ano, pois graças ao FIQ pude pegar os dois primeiros volumes de “Meta – Dept. de crimes metalinguísticos” de Marcelo Saravá (roteiro), André Freitas (arte) e Omar Viñole (cores). Além disso, como vocês podem perceber, eu gostei mais da primeira edição do que da segunda, mas ambas são excelentes. Não à toa estão na lista de melhores quadrinhos de 2024.
Contudo, agora que estou escrevendo percebo que é complicado falar de uma sem falar da outra e dos motivos delas ocuparem posições diferentes. Mas acho que o principal motivo é que o primeiro volume vibra pelas suas invencionices, enquanto no segundo a série ganha novos contornos graças ao caráter episódico das histórias enquanto vamos aprofundando no mistério de Alan, sua família e o mundo metalinguístico.
Neste segundo número temos duas histórias. Na primeira temos um assassino em série em busca da vítima final: você. Isso mesmo, você pessoa leitora. Saravá consegue nos inserir de uma forma bastante interessante na história e todo este primeiro capítulo é construído tendo em mente a participação do leitor e o ato de se passar as folhas. Já na segunda história vemos Alan ir atrás da irmã em busca de informações sobre o pai que o fazem encontrar a mais famosa contadora de histórias da literatura: Sherazade.
Todavia, a proposta de se brincar com as características metalinguísticas dos quadrinhos permanece e dá um passo além, pois agora estamos no território de violar o próprio volume. Algo que para muitos é um ato completamente impensável, mas que caso você tenha a coragem de fazê-lo o levaria a uma terceira camada de histórias. Eu admito que o fiz com a ajuda de um pequeno e afiado estilete.
04 – O dia de Júlio

Outra releitura deste ano foi o quadrinho Gilbert Hernandez, que por enquanto, segue sendo o meu único contato com a bibliografia dos irmãos Hernandez. Porém, mesmo ainda
É difícil não comparar a HQ com Cem Anos de Solidão do escritor colombiano Gabriel García Márquez. Ambas acompanham a história de uma única família ao longo de dez décadas. Há outras semelhanças, como a personagem centenária que acompanha todos os eventos ocorridos no seio familiar, assim como a multiplicidade de personagens. Entretanto há em “O dia de Júlio” uma segunda história sendo contada ali nas entrelinhas e que vai emergindo à medida que os anos vão passando.
É a história de uma família, mas também das mudanças sociais e políticas de um século, mas sem ser historiográfico. Os eventos ocorridos durante o século 20 são vivenciados pelas personagens, mas não há necessariamente datas para guiar o leitor. Desta forma, não são poucos os momentos, onde é necessário intuir a época que está sendo retratada ou quais fatos históricos estamos presenciando.
Contudo, assim como diz o professor universitário e escritor Brian Evenson no prefácio: “[…] Hernandez está interessado em celebrar a vida em sua completude, em todas as suas decepções e alegrias, seus ápices e quedas, com todos os riscos e limitações”. E é bonito demais poder acompanhar isso.
03 – Meta – Dept. de crimes metalinguísticos vol. 1

Meta – Dept. de crimes metalinguísticos é uma HQ repleta de sacadas metalinguísticas. “Conhecer a mídia é metade da batalha”, diz uma das personagens em uma sequência que lembra muito o treinamento de Neo em Matrix. Ora, a equipe responsável conhece e muito bem o terreno onde está pisando e não são poucos os momentos em que você vê a linha da quarta parede se tensionar.
Entretanto, se dominar os instrumentos e apetrechos disponíveis do formato é só a metade, a outra é convencer o leitor a se envolver na história. Posso dizer que todos os envolvidos no projeto também foram bem-sucedidos nisso. Tudo é feito para instigar a virada de página e todos os efeitos de metalinguagem estão ali em prol de se contar uma boa história. Ao passo que ao final da leitura torna-se claro os motivos que a fizeram ser a ganhadora do prêmio Jabuti de melhor HQ em 2021.
Falando em final, que sequência maravilhosa é a do clímax. Não, não vou comentar, porque prefiro que você leia por conta própria.
02 – Retrato falado: um quadrinho de briga

Sabe aquelas HQs que você pega e lê em uma única sentada? Essa é uma delas e agradeço ao FIQ por me apresentar tanto o autor quanto a obra. Lor participou da mesa Ditadura nunca mais! Quadrinhos e os 60 anos do golpe civil-militar na edição de 2024 e tanto o quadrinista como a HQ fazem jus ao subtítulo.
Retrato falado é outra obra que recorre a um país fictício para falar das mazelas que ocorreram em nosso país. Publicada pela primeira vez ainda durante a ditadura militar, entre 1979-1980, a HQ chega agora pelas mãos da editora mineira Mambembe Livros. E assim como o terceiro lugar da nossa lista, a HQ é daquelas que demonstra toda a força dos Quadrinhos enquanto mídia. Pois, acredito que certas coisas só podem ser feitas utilizando as ferramentas disponíveis dentro da 9ª arte.
A primeira parte da HQ é uma demonstração de força. Simbólica, por conseguir condensar todo o período da ditadura militar, mas também narrativa, já que toda a sua estrutura se assemelha a um plano-sequência, onde cortes não são percebidos e tudo parece seguir um grande fluxo. Já a segunda parte se concentra na história miúda daqueles que lutaram e sofreram nas mãos do regime e que muitos por aí se recusam a acreditar ou que buscam ativamente esconder.
Retrato falado era um gibi que tinha que ser resgatado do limbo do “fora de catálogo”, pois é forte, é nosso e é uma obra de um quadrinista com total domínio daquilo que se propôs a fazer. Coisa fina.
01 – Mort Cinder

O que define um clássico? Fiquei pensando nisso ao terminar de ler o quadrinho da dupla Héctor Germán Oesterheld e Alberto Breccia. São várias as formas pelas quais uma HQ pode ascender e ganhar este status. Algumas chegam lá pela força dos temas que abordam, outras pelas intrincadas formas de se contar uma história, umas condensam todo o espírito de uma época, enquanto outras são o trabalho de uma equipe empenhada em construir algo maior. Um trabalho onde todas as partes envolvidas buscam tirar o melhor uma das outras.
Acredito que Mort Cinder se encaixa em todos os motivos acima. Mas é claro que é possível encontrar outras razões para que a HQ esteja dentro deste panteão, pois como Italo Calvino define: “Os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos”. E há muita coisa sendo dita aqui.
Na HQ acompanhamos Mort Cinder, um enigmático homem imortal, e o antiquário Ezra Winston em dez histórias diferentes. Todas elas motivadas pelo encontro com um misterioso objeto. Tokens que evocam histórias do passado ligadas de uma forma ou de outra a Cinder.
Passeando por diferentes gêneros, como ficção científica, terror e romance policial, Oesterheld nos leva a alguns episódios famosos da nossa história tal como a construção da Torre de Babel, a Batalha das Termópilas e 1ª Guerra Mundial. O que vemos é que tanto os gêneros como as passagens históricas servem como ferramentas para se investigar aquilo que há de mais profundo em nós, seja as coisas mais fúteis, desprezíveis e valiosas.
Assim como Oesterheld brinca com gêneros e temas, Breccia também exibe todo o seu virtuosismo. Aqui é possível ver os primeiros passos do desenhista em direção ao expressionismo abstrato no qual ele utiliza pesadas passadas de nanquim e pincel para criar efeitos de encher os olhos. Algo que veremos o desenhista explorar com mais afinco em outros trabalhos como em Buscavidas, onde Mort Cinder faz uma pequena aparição.
E é justamente essa junção de talentos que torna a HQ única e um trabalho que merece ser lido num outro ritmo, mais lento, quase como um daqueles dias em que o próprio tempo parece se arrastar e os relógios param por alguns instantes. Tudo para você aspirar o que vem destas páginas. E quando o relógio voltar a se mexer, saiba que Mort Cinder caminha mais uma vez entre nós.
Menções honrosas
2024 foi um ano de poucas leituras como disse. Mas ainda assim, foi possível encontrar boas histórias aqui e ali. Algumas já resenhei no blog, outras não pela simples falta de tempo. Logo é preciso registrá-las mesmo que de forma breve, por isso segue uma segunda lista abaixo:
- O caso do churrasco na laje de Pacha Urbano (roteiro) e Fred Hildebrand (arte)
- Cálculo renal de Raphael Fernandes (roteiro) e Danilo Dias (arte)
- Jogo de Sombras de Isabor Quintiere (roteiro) e Gabriela Güllich (arte)
- Jeremias: Estrela de Rafael Calça (roteiro) e Jefferson Costa (arte)
- Sementes de Ann Nocenti (roteiro) e David Aja (arte)
E para 2025?
Prever o futuro está ficando complicado. Ao horizonte pesadas e sombrias nuvens se aproximam, seja pelos fatores políticos, seja pelas questões sociais que se levantam para marcar esta segunda metade da década de 20 do século XXI. E continuar a acompanhar e principalmente ler quadrinhos tem se tornado algo complicado. Não pretendo parar de lê-los, mas ao mesmo tempo é inevitável diminuir o ritmo e, consequentemente, as oportunidades de se conhecer novas histórias é reduzida.
O foco deste ano talvez seja terminar a coleção “Alan Moore”. Falta pouco, mas a quantidade de dinheiro para concluí-la talvez consuma a maior parte do orçamento destinado a aquisição de novas obras. Ainda não consegui os volumes de “Supremo” e nem os da “Liga Extraordinária”, mas gostaria de pegar os volumes de Tom Strong antes, afinal a Panini não é lá afeita a reimpressões e quando o faz são em formatos ainda mais caros. Uma tendência do mercado, diga-se de passagem.
A Lei Cortez é a nova tábua de salvação do mercado livreiro nacional e é uma lei necessária para que possamos continuar a ver em nossas paisagens urbanas uma ou outra livraria de rua ou dentro de shoppings. Porém, só ela não irá revitalizar o cenário e trazer novos leitores. É preciso de mais políticas públicas, é essencial a criação de novas bibliotecas e consolidar as existentes com acervos variados e horários de funcionamento acessíveis, é primordial fortalecer as escolas e dar condições aos professores. Em suma, é fundamental que voltemos a ter um projeto político humanista no país. Ops, olha aí a política se enfiando novamente nos quadrinhos.
Brincadeiras à parte, tudo isso é essencial para que o fluxo em relação aos bens culturais possa se inverter. Não há futuro na gourmetização das HQs, isso se é possível torná-las ainda mais luxuosas. Se bem que sempre dá, mas a um preço terrível que é o da não circulação destas mesmas histórias.
Por hoje é só pessoal.
Obs: A imagem que abre esse artigo é do artista Luis Mendo