Ficha técnica
Pequena Livraria de horrores
Autora: Luísa Lacombe (roteiro e arte)
Preço: R$ 25,00
Editora: Publicação independente
Publicação: Dezembro / 2020
Número de páginas: 45
Formato: (15,5 x 21 cm) Preto e branco/Lombada com grampos
Gênero: Comédia
Sinopse: Em uma livraria, aparentemente comum, leitores são apresentados a obscuros acontecimentos do lado do balcão de atendimento para dentro.
***
Trabalhar com o público é uma das coisas mais insanas que se há na Terra. Tudo pode acontecer e situações completamente caóticas podem acontecer. Contudo, as histórias que ocorrem nos bastidores são tão ou mais alucinantes que as ocorridas na frente do público. E são esses os casos narrados por Luísa Lacombe em Pequena livraria de horrores, porém com um toque a mais.
Lacombe foi uma das surpresas do FIQ-2022 e acabei conhecendo o trabalho da quadrinista praticamente em cima do evento, graças a indicação do Érico Assis, e não deu outra. Coloquei a HQ na minha lista de compras e rumei para o festival com o intuito de não voltar sem o meu exemplar.
Contando com três histórias, que se ligam em uma narrativa maior, a HQ é uma comédia de mão cheia. E quando digo isso, é porque a autora demonstra um perfeito domínio no tempo das piadas e personagens cheios de personalidade, mesmo os coadjuvantes que vez ou outra roubam a cena.
Outro detalhe bastante interessante é como a quadrinista se insere na própria história. Servindo como narradora, Lacombe faz o papel de mestre de cerimônia, assim como o Uncle Creepy e Cousin Eerie das clássicas HQs de terror da década de 60: Creepy e Eerie. E com direito a lição de moral ao final.
Do terror ou da comédia diária
O mais excepcional das histórias é como elas partem de coisas do cotidiano e que, apesar de se passarem dentro de uma livraria, são facilmente reconhecíveis por todo mundo que trabalha em uma empresa. Afinal de contas, quem nunca teve um colega de trabalho controlador, que se valia de uma aura de prestativo, como o apresentado em Avisos, um chefe desesperado capaz de tudo para atingir a meta como em Desejo ou uma colega de trabalho se apaixonando pelo boy estranho do setor.
E é extrapolando esses eventos do dia-a-dia que a quadrinista vai inserindo elementos sobrenaturais, sempre ligados a algum livro, tornando-os em pequenas pérolas de comédia de situação (sitcom) amparadas em um texto para lá de afiado. Tanto que, para mim, a melhor história da HQ que sabe explorar esses elementos é a segunda – Desejo.
A interação entre os personagens da história, principalmente entre o livreiro Otávio e a vendedora Marcela, me fizeram lembrar algumas dinâmicas de The Office me arrancando umas boas gargalhadas. Isso sem falar no final que é sensacional. Afinal de contas, se o capitalismo nunca perdoou, não será agora que em sua fase tardia que ele vai dar algum descanso.
Quanto à arte de Lacombe, ela é bastante cartunesca e, chamo atenção, para os olhos brancos da maioria dos personagens dando a eles um tom fantasmagórico. O que, por sua vez, casa como uma luva com a temática de Pequena livraria de horrores. Além disso, a diversidade dos personagens, que, apesar de ser algo que deveria ser natural, me chamou a atenção por motivos de escassez em se sentir representado.
Conclusão
O FIQ é um daqueles eventos cheios de surpresas e possibilidades e eis que descobrir o trabalho da Luísa Lacombe, entre outros, talvez já tenha valido a caminhada pelos corredores do evento. E para a minha felicidade, ao fazer uma pesquisa sobre a sua bibliografia lá no Instagram, vi que há outras histórias do período em que ela trabalhou em uma livraria. O que já vai me garantir horas rolando o feed para catar essas pérolas.
Além disso, graças ao Érico Assis de novo, pesquei que ela possui uma outra HQ chamada “Meu primeiro FIQ” e a curiosidade foi parar no teto. Isso sem contar na “Música triste vol.1”, seu próximo trabalho. Então se eu fosse você, não ficaria de fora, puxava uma cadeira e ouviria os outros casos que a autora tem para contar.
Nota: 3