Após uma bem sucedida campanha no Catarse, a revista Banda acaba de publicar a sua primeira edição. Com o objetivo de fugir do senso comum e fomentar a discussão, este primeiro número é totalmente dedicado ao tema “Clássicos da HQ Brasileira” e busca responder o trinômio “onde estão?”, “quais são?”, “quem disse?” e de quebra ainda levanta algumas provocações dignas do nosso saudoso Antônio Abujamra.
Criada pelos quatro amigos Carlos Neto (Papo Zine), Douglas Utescher (Ugra Press), Gustavo Nogueira (Êxodo) e Thiago Borges (O quadro e o risco), a publicação chega para preencher uma lacuna no mercado editorial com um início bastante promissor, pois o que encontramos em suas 36 páginas é uma discussão de alto nível acerca do tema e com uma produção impecável.
Dentre as provocações encontradas na revista, vemos a noção de clássico ser esmiuçada e junto com ela a própria estrutura do mercado de quadrinhos nacional que não colabora para que obras e autores nacionais sejam redescobertos por novos públicos. Afinal de contas, um clássico é uma obra que está sendo constantemente relida, como diz o autor italiano Ítalo Calvino, citado na revista.
Sem respostas prontas e fugindo do senso comum, as seis matérias que compõem a revista atacam o tema em várias frentes dando ao leitor a oportunidade de se debruçar sobre o assunto e ao final mapear a complexidade do debate. Além de contar com uma lista de indicações de clássicos e candidatos ao posto feita por de dez personalidades Nona Arte brasileira das HQs nacionais. E tudo isso na rabeira daquela que é uma das maiores referências dentre as HQs nacionais: Diomedes, a trilogia em quatro partes, de Lourenço Mutarelli.
Lourenço Mutarelli – um tributo
A presença central do autor brasileiro se deve, não somente pelo peso de sua obra, que já a coloca entre os clássicos nacionais, mas também para aproveitar que em 2019 completam-se vinte anos da publicação de “O dobro de cinco”, a primeira parte de Diomedes. Cumprindo assim, o papel de apresentar autor e obra a um novo público de leitores, tornando a própria revista Banda em um agente ativo dentro do mercado de quadrinhos.
Ainda sobre o autor, Lourenço Mutarelli dá as caras numa longa e enriquecedora entrevista sobre Diomedes: o processo de criação da trilogia, curiosidades e influências do autor. E após a sua leitura, tenho certeza que você irá ficar com um comichão nas pontas dos seus dedos para ler ou reler Diomedes ou alguns dos outros trabalhos de Mutarelli, seja em quadrinhos ou em prosa.
E em tempo, não posso deixar de falar que a Editora Comix Zone, do canal homônimo no Youtube, publicou recentemente todas as primeiras histórias do autor na antologia Capa Preta que reúne Transubstanciação, Desgraçados, Eu Te Amo Lucimar e A Confluência da Forquilha, todas vencedoras do Troféu HQ Mix.
Mas nem só dos antigos clássicos vive este primeiro número e não é só na lista dos convidados que podemos ter uns vislumbres das obras que estão no radar para se tornarem clássicos da Nona Arte brasileira. Há uma investigação contundente acerca destes novos títulos e outra àquela que talvez já tenha nascido sobre essa insígnia: Angola Janga de Marcelo D’Salete.
Acho que já deu para perceber o quão promissor foi o início da Revista Banda e os motivos que me fazem desejar vida longa e próspera ao projeto do pessoal. E para vocês que querem saber ainda mais sobre os objetivos do projeto recomendo que leiam a entrevista do Thiago Borges para o site Vitralizado, que sigam o pessoal no Instagram ou adquiram a revista no site da Ugra Press.
Para finalizarmos, a edição número 2 já foi anunciada e terá uma entrevista com uma das mais importantes cartunistas brasileiras, a Ciça, e terá como tema: Quadrinhos e política, relembrando a publicação O Pasquim. E em tempos como esses vê se o tema já não aquece o coração.